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domingo, agosto 19, 2007

Forum Pátria 


http://forum-patria.forum-livre.com/

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sábado, agosto 18, 2007

Forum Filosofia 


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Entrevista com Dux Bellorum /Ricardo de Vasconcelos, administrador do Fórum Pátria 

(Trabalho NOVOPRESS)

O Fórum Pátria tornou-se em pouco tempo um dos fóruns nacionalistas mais frequentados, onde são abordados os mais diversos temas, não poucas vezes bem polémicos, como é o caso da fractura existente entre as diversas correntes de ideias existentes dentro da área nacional.
A equipa Novopress foi entrevistar Ricardo de Vasconcelos, o administrador desse fórum, conhecido no mesmo sob o pseudo de Dux Bellorum, latim para designar Chefe de Guerra. Ora, estão abertas as hostilidades.

1- Ricardo de Vasconcelos, pode traçar-nos em breves linhas o seu ideário e o que o levou a abrir o Fórum Pátria?
Transporto uma concepção de Estado como entidade que emana da nação. Por nação entenda-se o colectivo e o espírito da sua história. Estou especialmente interessado nos valores que transcendem o indivíduo e pretendo que estes se transformem em realidades essenciais da sociedade portuguesa. A minha posição alicerça-se no princípio de que a ética é superior à política. Quero com isto dizer que o Bem Nacional não pode ser sujeito ao relativismo dos indivíduos ou de organizações tais como partidos políticos. Acredito na união de um povo em torno dos seus melhores, de uma elite que detém os principais poderes e que transmite as suas virtudes às grandes massas. Defendo a necessidade de criar um regime novo, adaptado às actuais circunstâncias mas com raízes no Portugal Eterno. Desejo ardentemente a restauração do Portugal histórico, com portugueses orgulhosos do seu passado e da terra que habitam. Saliento a importância de um sonho nacional, uma missão capaz de unir o povo e fazê-lo olhar para o futuro com ambição.
Apesar de ser simpatizante da Monarquia, consigo viver em República desde que esta se assuma como Estado moral, promotor de virtudes e responsável pela felicidade plena dos cidadãos.
Repudio a substância da democracia. É uma encenação que faz-de-conta que todos os homens são iguais: do mais reles biltre ao mais elevado génio intelectual e moral. Tolera a diferença enquanto esta for relativa (ou seja, sem valor) mas não gosta dela. Como é possível apreciar algo sem a capacidade de reconhecer o Absoluto?… O Absoluto é a percepção das coisas eternas e imutáveis, sobre as quais erigimos os valores transcendentes. Uma das consequências do relativismo que alicerça o pensamento contemporâneo é a incapacidade, por parte dos indivíduos, de apreciar seja o que for. Hoje em dia gosta-se ou detesta-se, mas não se sabe apreciar…
Quanto ao fórum Pátria, foi criado por quatro pessoas com o intuito de promover o diálogo entre as diversas “facções” (ou correntes) dentro do Nacionalismo. Na nossa opinião, os fora já existentes pecavam por falta de imparcialidade. Entendemos que um dos principais problemas dentro do Nacionalismo actual é o autismo, e por vezes ódio, que cada “facção” demonstra em relação às outras. Dentro do fórum Pátria o debate é possível entre salazaristas e nacional-socialistas, entre monárquicos e republicanos, entre fascistas e democratas… A nossa luta tem sido a da imparcialidade e independência. Assumimos o papel de árbitros do debate, sempre com o intuito de sustentar diálogos racionais e serenos. Queremos, sobretudo, definir conceitos e desenvolver ideias. Temos como meta a criação de uma cultura nacionalista vocacionada para o futuro.
2- Podemos asseverar que o Fórum Pátria é um espaço virtual de Salazaristas?
Não. O fórum Pátria é mantido por pessoas que admiram o Prof. Dr. Oliveira Salazar mas nunca pretendemos que fosse um espaço ideologicamente estanque. Temos utilizadores monárquicos, nacional-socialistas, fascistas, democratas que querem expressar o seu patriotismo e até gente com ideologias de esquerda.
3- Uma das premissas inquestionáveis para os nacionalistas de antanho era o seu anti-democratismo e antiparlamentarismo. Basta ler António Sardinha ou Alfredo Pimenta para o percebermos. Organizações como o não muito distante Movimento de Acção Nacional foram visceralmente antidemocráticas. Contudo parece existir actualmente uma constatação de que ignorar o jogo parlamentar é suicídio político e ser-se antidemocrata está fora de moda. O que tem a dizer sobre isto?
Pode-se ser anti-democrata e, simultaneamente, utilizar os instrumentos do jogo parlamentar. O PCP é prova disso. Quanto aos nacionalistas que repudiam o regime parlamentar (ou “democrático”), cabe-lhes levar a cabo a sua missão tendo em conta as condicionantes do contexto actual. Há várias vias para se chegar ao poder governativo, mas é sempre o contexto sócio-político que faz com que umas sejam mais transitáveis do que outras. Uma vez que a missão dos nacionalistas tem uma importância extrema – a salvação nacional – há que encontrar todos os meios disponíveis.
Não penso que ser anti-democrata esteja «fora de moda». Uma parte significativa do povo português está francamente desiludida com a estrutura do poder. Ao longo de 33 anos houve um desenrolar de situações que conduziu o regime parlamentar ao descrédito. O pior de tudo é que há muita gente a afirmar a ausência de um rumo nacional. A falta de transparência em diversos processos políticos fez com que surgisse um sem número de teorias sobre uma eventual afinidade entre os governantes e o crime organizado.
A descrença no regime está-se a generalizar. Não é o actual governo que está a ser posto em causa; nem são os partidos em particular. É o regime como um todo, na sua vertente de conjunto de seres humanos que exercem funções governativas e na vertente cultural de valores, mitos, visão do mundo e ideais, que se divorciou do mais comum dos cidadãos.
Eu tenho uma visão bastante negativa dos regimes democráticos. Confesso que não me sinto bem a viver em democracia. È uma encenação e nela só se sente bem quem tiver vocação para representar. Não acredito na retórica dos sofistas, aqueles que conseguem “provar” qualquer coisa desde que lhes seja conveniente; não acredito em farsas eleitorais; e sobretudo, não acredito na igualdade dos homens.
Continua a residir na cabeça de muita gente a ideia da pulsão libertária e igualitária intrínseca ao ser humano. É como se houvesse uma espécie de instinto dentro de cada um de nós a puxar-nos para uma suposta condição natural de liberdade e igualdade. Esta ideia é tipicamente romântica, mas está longe de ser inócua, uma vez que é utilizada constantemente como instrumento argumentativo nas reivindicações de poder.
O que realmente é intrínseco ao ser humano é a vontade de acumular poder. Penso mesmo que a maior força motivacional, depois das necessidades básicas do organismo, é a sede de poder. Não adianta fazermos juízos de valor sobre esta característica. A verdade é que a nossa existência pauta-se pela capacidade de intervir no que nos rodeia, de conseguir controlar o nosso destino e de sentirmos que não somos simples marionetas controladas por forças exteriores. Ser detentor de poder e ter consciência dessa posse são dois vectores motivacionais presentes em quase todos os nossos comportamentos e necessários à saúde psíquica de qualquer ser humano.
O discurso da igualdade é precisamente uma das ferramentas utilizadas por muita gente com vista à obtenção de poder. Esta ferramenta surge mais comummente nas estratégias de reivindicação. A afirmação e a defesa do “ideal de igualdade” são feitas por indivíduos (ou organizações) que procuram diminuir o poder de um opositor que se encontra numa situação de superioridade. A verdade é que o mais comum dos seres humanos só afirma a igualdade quando lhe é conveniente, ou seja, quando sente que está numa situação desfavorável. Na maioria das vezes a reivindicação do princípio de igualdade é feita por quem sente que as suas capacidades não são suficientes para ascender na estrutura hierárquica. Noutras ocasiões, o ideal igualitário surge como bandeira em acções jacobinas. Aqueles que procuram desesperadamente adquirir poder fazem-no atentando contra instituições ou grupos com a acusação de que estes “violam a sacralidade da igualdade humana”.
A democracia é uma farsa perigosa. Em primeiro lugar, é uma farsa porque tenta convencer os cidadãos de uma liberdade de escolha que eles não têm. Como podem escolher um governante se a única “informação” que lhes é facultada é o entretenimento da propaganda? Votamos em candidatos virtuais criados por assessores de marketing e publicitários. Segundo, a democracia é perigosa porque permite governos cuja principal condicionante é a opinião pública. Nada é mais volúvel, incerto e gerador de injustiças do que a opinião pública! Tal regime só permite homens sem consciência, que lavam as mãos perante a vontade das multidões. Por contraste, um governo independente do arbítrio popular assume-se como único responsável pelos seus actos e isso faz com que a consciência esteja presente em todas as tomadas de decisão.
A democracia favorece as pequenas “liberdades” enquanto espartilha a verdadeira Liberdade. A Liberdade, enquanto base da experiência humana, confere aos indivíduos uma existência plena, de vivências completas e genuínas. Permite que cada ser humano aprecie cada momento e nele descubra o que o transcende. As pequenas liberdades da democracia partem do princípio que o humano é um ser especial, com uma vontade independente e fonte do seu próprio mundo. Leva os indivíduos a construírem castelos no ar e – o que ainda é pior – a desejarem viver neles.
4- Vivemos numa sociedade totalmente absorvida pelo consumismo desenfreado e pela futilidade, na qual pouco espaço resta para a exaltação e permanência de valores como o orgulho pátrio, o sentido de identificação com uma história secular de sacrifícios e glórias. O que fazer perante cenário tão deprimente?
O consumismo desenfreado e a futilidade são produto de uma sociedade que eleva a alturas superlativas os interesses individuais. Constrói egos do tamanho de catedrais e reduz a pó qualquer valor transcendente. O consumismo deriva da sensação de insatisfação sentida por quase todos os indivíduos das sociedades ocidentais. Esta insatisfação é gerada pela ausência de valores transcendentes mas também pelo modelo capitalista que distribui o desejo mas não a oportunidade de o saciar. Toda a gente tem objectos de desejo mas poucos são os que os conseguem adquirir.
Há outro aspecto, igualmente importante, que agudiza a sensação de vazio sentida nas sociedades ocidentais. Trata-se da instabilidade social. A insegurança está sempre presente e interfere em todas as situações do quotidiano.
Quais as causas deste problema? Há factores que são comuns à generalidade das sociedades ocidentais e há outros mais específicos da realidade portuguesa. Vejamos alguns agentes causadores:
- O conhecimento está numa constante transformação e as mudanças tendem a acelerar. Ninguém sabe se o conhecimento que detém hoje vai servir daqui a 3 anos. O sujeito contemporâneo vê-se forçado a “reciclar” constantemente os conhecimentos para não ficar desactualizado. Ter conhecimentos inúteis significa ser incapaz de interagir numa sociedade altamente competitiva.
- O trabalho é cada vez mais instável e precário. Isto quer dizer que um trabalhador hoje não sabe se “amanhã” vai conseguir manter a qualidade de vida.
- Os meios de comunicação social instigam ao medo e ao pessimismo.
- As relações sentimentais são cada vez menos estáveis.
- A criminalidade tem vindo a aumentar.
- Os valores e os ideais humanos são cada vez mais fluidos e “relativizáveis”.
Em suma, os indivíduos dispõem cada vez menos de estruturas sociais estáveis nas quais possam assentar a sua vivência quotidiana e que lhes proporcionem uma certa previsibilidade quanto ao seu futuro. É precisamente a capacidade de antecipar as condições futuras que faz com que uma pessoa se sinta segura. O problema não está no futuro ser mau, está em ser incerto.
Os problemas do consumismo, da futilidade e da insegurança só se resolvem com uma mudança de paradigma político. Só um Estado forte, que faça reviver os valores transcendentes e que limite o arbítrio individual, pode conduzir a sociedade às virtudes do espírito. É necessário um grande ditador (no sentido romano do termo) para que a sociedade não seja constituída por pequenos ditadores (os consumidores, reis das coisas fúteis).
5- O meio nacionalista português, à semelhança de qualquer outro em qualquer parte do globo, é mutável, e multiforme são as correntes ideológicas existentes no seu seio. Considera, como algumas vozes que se fazem ouvir de forma recorrente, que o meio nacionalista apenas pode vingar se existir uma união entre todas os seus componentes, ou, em sentido contrário, crê que essas distintas correntes ideológicas deverão seguir caminhos separados, sem que isso signifique o despoletar de querelas entre as mesmas?
É possível unir todas as correntes do Nacionalismo num projecto único. O que actualmente divide a nossa causa em diversas facções não são as diferenças ideológicas, são as diferenças de carácter (ou perfil pessoal). Não é possível pôr a trabalhar no mesmo espaço intelectuais e hooligans; ideólogos políticos e agitadores de rua; pessoas que sabem construir um Estado com “patrioteiros” de fim-de-semana. Tem que existir uma selecção nos indivíduos que encabeçam o corpo nacionalista. Há gente muito válida em todas as correntes ideológicas e esses têm que se distinguir do vulgo, das multidões cheias de paixões efémeras e primárias. Se queremos que um dia a nossa Pátria seja governada pelos melhores temos que primeiro fazer com que o Nacionalismo seja um escol de indivíduos acima da média.
Para que a união seja uma realidade há dois aspectos fundamentais: primeiro, é preciso criar uma sociedade nacionalista cujos membros estejam em permanente contacto. O estabelecimento de uma rede de comunicação entre os nacionalistas fará emergir uma cultura comum. Segundo, temos que entender o movimento nacionalista como um organismo vivo, com órgãos e células especializadas, integradas no mesmo sistema e com um objectivo comum. Critica-se em demasia aquele militante que se dedica a uma tarefa específica, que não anda na rua a colar cartazes ou a agitar bandeiras. Parece que só há dois “tipos” de nacionalista: o líder (dá ordens e está encarregado de realizar todo o trabalho intelectual) e o militante (a este compete agitar na rua os transeuntes). Não há nenhum organismo que se resuma ao cérebro e aos braços. A especialização é necessária. Os “coladores de cartazes” são tão úteis como os bloguistas e os intelectuais que analisam e divulgam a doutrina. Só em organismos simples e sociedades primitivas é que a especialização é dispensável. Não podemos pensar que todos servem para tudo.
6- De acordo com o que é possível ler no Fórum Pátria, existem muitas pessoas que não se revêem em nenhuma formação política existente no meio nacionalista. Poderá suceder o caso de estarmos em vias de assistir ao nascimento de mais uma organização? Em caso afirmativo, pode gizar em traços gerais no que consistirá essa nova estrutura política?
Realmente existem muitas pessoas que não se revêem em nenhuma formação política do actual panorama nacionalista. Tal facto deve-se menos a diferenças ideológicas e mais à incompatibilidade de caracteres. A verdade é que há muitos nacionalistas que não se querem misturar com certos grupos cujas actividades são pouco recomendáveis e outros não reconhecem valor aos órgãos dirigentes dos movimentos que já existem.
O que eu pretendo fazer é congregar pessoas com capacidade intelectual e anímica de forma a gerar uma verdadeira sociedade nacionalista. Qualquer influência política é sempre precedida de uma acção cultural. Como tal, o mais importante nesta fase do “novo Nacionalismo português” é pôr em contacto todos aqueles que podem exercer uma acção doutrinária e gizar projectos válidos e perenes.
Um dos problemas no meio nacionalista é haver muita gente que acha que o que sabe é suficiente. A ilusão da omnisciência tem feito com que as organizações cometam erros quase infantis. Por isso, é necessário criar uma escola, um projecto de educação política dirigido à formação de nacionalistas. No que toca à formação de militantes os comunistas sempre tiveram um trabalho muito bem feito. Neste caso podem servir de exemplo.
7- Numa época fatalmente globalizada, a internet afigura-se porém como um extraordinário instrumento na difusão das ideias políticos, independentemente da sua cor. Contudo, corre-se o risco de cairmos num mundo virtual em detrimento do mundo real onde efectivamente o cidadão da rua vive e sofre a maleitas de um sistema cada vez mais preocupado com os “outros” que com ele. Como contornar esta situação, sem no entanto cair-se no activismo estéril e folclórico?
A difusão da cultura nacionalista deve ser (e já é) diversificada. Há muita gente a trabalhar no ciberespaço e nas actividades de rua. Só ainda não usamos os meios de comunicação social porque estão nas mãos da classe política e esta veda-nos o acesso.
Quanto à sua pergunta devo dizer que a considero bastante optimista ao compará-la com o meu ponto de vista. Eu penso que o risco existia nos anos sessenta do século XX, numa altura em que o capitalismo entrou numa nova fase. Neste momento já vivemos num mundo virtual. Este virtualismo tem duas facetas: a primeira é a sociedade do simulacro, na qual tudo é replicável e já não se diferencia o original da cópia. O nosso mundo desmaterializou-se e as imagens tomaram o lugar dos objectos reais. Neste processo o mundo deixou de ter o sentido que tinha. O que considerávamos genuíno deixou de existir e passámos a viver numa espécie de fluxo de representações. A segunda faceta deste virtualismo é o facto de termos começado pensar a realidade tendo como base cognitiva a gramática da Economia. Enquanto nos contextos anteriores o pensamento era estruturado pela teia de relações sociais que envolvia cada indivíduo, nas novas sociedades a Economia impôs a sua epistéme, colonizando todas as esferas do social. Basta recordar que o conceito que temos de liberdade (entendida como individual) deriva do ideal americano de mercado.
A questão que me colocou é muito mais complexa do que a simples dicotomia Internet versus “mundo real”(offline). Ambos são virtuais, mas de maneira diferente. Ora, como difundir ideais políticos num mundo virtual offline? O Nacionalismo (como eu o entendo) é precisamente a luta em prol do mundo real contra o totalitarismo do virtual. Não há nenhum nacionalista que não tenha como motivação basilar o amor ao que é genuíno. O patriotismo e outros valores sólidos, a valorização da história, a integridade como ideal, a defesa de tudo o que é genuinamente português… Até em questões muito específicas o Nacionalismo expressa a sua aversão ao virtualismo, como no caso do referendo sobre a “interrupção voluntária da gravidez”. O aborto provocado faz parte da sociedade virtual em que vivemos. Pretende transformar uma gravidez real num simulacro, uma espécie de “faz-de-conta que nunca esteve grávida”. Ser nacionalista é rejeitar o mundo de faz-de-conta que o capitalismo e o comunismo nos impingiram.
A grande luta que temos pela frente é convencer pessoas que já se acostumaram a viver num mundo artificial. Quem vive num mundo da ilusão muitas vezes tem medo de regressar à realidade…
8 - Deixamos-lhe as últimas palavras…
Agradeço a oportunidade que me deram, com esta entrevista, de expressar uma parte importante do meu ponto de vista. Aproveito para convidar todos os leitores ao exercício de rever os magníficos exemplos que a antiguidade clássica nos deixou, especialmente o legado político do império romano. Vale mesmo a pena reflectir sobre a concepção de autoridade moral na governação e os valores que lhe subjazem. Brevemente colocarei online um sítio dedicado às questões éticas do exercício de governação, muitas delas baseadas em princípios romanos.

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Entrevista com responsáveis da associação Legião Vertical 

(Trabalho NOVOPRESS)

É com redobrado prazer que a equipa Novopress publica esta entrevista com dirigentes da Legião Vertical, uma associação que tem vindo a desenvolver um amplo conjunto de actividades culturais, sempre com vista à formação e elevação pessoal dos seus membros, com base nos ensinamentos daquele a quem designam por Mestre, o sempre tão actual pensador italiano Julius Evola. Os nossos sinceros agradecimentos à LV pela colaboração.

1. O que é a Legião Vertical, que áreas de actuação priveligia e quais as suas balizas?
- A LV é uma organização que procura transmitir uma certa maneira de estar na vida. Como achamos que o mundo em que vivemos é individualista, materialista, mesquinho e cada vez mais prostituído à grande ilusão de progresso, procuramos com a LV ser uma espécie de crisol onde valores intemporais sejam transmitidos e sobretudo, partilhados e vivênciados.
2. Tendo o pensador italiano Julius Evola como inspiração, falecido há mais de 30 anos, em que medida poderá a sua obra teórica auxiliar aqueles que se opôem ao Mundo moderno, isto é, tudo aquilo que lhe é inerente?
- A resposta a esta pergunta está contida na primeira. O Mestre era portador dessa chama Tradicional e portanto intemporal que jamais se extingue, embora por vezes esse fogo não seja perceptível pelo comum dos mortais, ele está lá para aquecer e orientar a quem o busca com verdade. A demanda é essa, e ela passa por descobrimos o Homem Vertical que existe latente em cada um de nós e que o mundo moderno quer a todo o custo aniquilar.
3. Julius Evola tornou-se um crítico do nacionalismo, particularmente por este ser um obstáculo à ideia que desde sempre acarinhou, o Imperium. Qual a posição da LV relativamente ao nacionalismo, tal como era entendido por Evola, bem como em relação à Ideia Imperial?
- Nacionalismo é entre “a nossa gente” um conceito demasiado alargado e mais ou menos fácil do qual abusamos para nos enquadrarmos. O nacionalismo é jacobinismo e como tal é sempre uma oposição. Ou seja, mesmo quando pretende enaltecer as qualidades de determinado povo e/ou a sua História fá-lo quase sempre em oposição a outros povos, outras pátrias. Enfim, mesmo quando não encontra pretensas superiores referências, parece como que dizer – Somos medíocres mas é assim mesmo que gostamos! O Mestre rejeita este nacionalismo e ao dizer que é na Ideia que deve residir a nossa verdadeira pátria impõe um padrão superior de Unidade.
4. Vivemos numa época em que tudo corre em ritmo acelarado. Alguns dizem que a formação ideológica de pouco serve actualmente dado que as ideologias morreram, numa espécie de Fim da história de Fukuyama. Os políticos actuais mostram-se pouco ideologizados. Julgam que uma sobre-intelectualização poderá conduzir a um abandono da chamada realpolitik e consequentemente à marginalização?
- Sim, ritmo acelerado, diríamos mais, vertiginoso. As ideologias concebidas por cabeças humanas nascem crescem, tomam corpo, muitas, são responsáveis por grandes desvarios, e depois caducam e morrem. A Ideia Tradicional é de Ordem Cósmica, onde o Bom, o Belo e o Justo, não andam ao sabor das mentes de desejo humanas (o kama-manas para os hindus), por isso a sua Intemporalidade de que já em cima falamos.
O abandono da politica e a intelectualização? Não nos merece grandes comentários. Os pseudo-intelectuais são de esquerda e são eles os timoneiros ideológicos da modernidade. A pseudo direita defende uma pequena moral burguesa em que nem eles próprios acreditam mas a que o jogo democrático assim obriga. E portanto ambos não passam de prostitutas ao serviço da globalização capitalista. Ou vocês ainda acham que os casamentos gays, o aborto legalizado, a droga legalizada…futuramente a maior idade para os 16 anos, etc. não fazem também parte da globalização?
O Povo deixou de o ser, e a populaça que por aí vegeta contenta-se com as migalhas do proxenetismo.
5. Na Direita e particularmente no seio da área nacionalista muito se fala de Tradição, havendo inclusive aqueles que teimam em diferenciar a Tradição com T maiúsculo e aquela com minúsculo. O que é então a Tradição?
- Parece que já fomos respondendo a essa questão, mas expliquemos em termos “materiais” – Imaginemos um cataclismo mundial do tipo “bíblico” o que é que acham que restaria da nossa actual civilização (?) Os computadores, os telemóveis, o ultimo grande avião…? É quase certo que isso fosse tudo consumido pelo fogo, ou pela água, ou por ambos! Agora reparem nas Pirâmides do Egipto, quantas civilizações já passaram por elas (?) e no entanto aí estão, verticais, serenas, quase que imunes ao tempo. Um exemplo plasmado da espiritualidade.
A Tradição É em Si mesmo e as tradições são-no na medida que conseguem tocar esse Principio. Como diria o Mestre - Existe Tradição onde não há diferença entre poder temporal e autoridade espiritual.
6. O termo Legião indicia algo marcial, que implica hierarquia e disciplina. Numa Europa que padece de uma patente desvirilização, qual o sentido que um espírito legionário, militar, entendido este termo no seu significado etimológico?
- Temos receio em responder a esta pergunta sem cairmos em lirismos ou más interpretações: Se falamos em Tradição falamos em Hierarquia se falamos em hierarquia podemos criar confusão com “cesarismo, bonapartismo”, um erro muito comum da “nossa gente”sempre desejosa de exteriorizar o Duce que há em si. Não estamos preocupados em parecer, embora os nossos egos estejam sempre a martelar-nos, mas em sermos. Para isso é necessário tomarmos consciência da nossa personalidade, a tal máscara com que nos vestimos. O conjunto de nossa personalidade é composto por “hierarquias” desde as necessidades mais elementares como comer ou respirar até aos nossos desejos mais ou menos requeridos pela nossa mente e portanto por aquilo que ela absorve do meio circundante. Depois de entendermos um pouco melhor este processo procuramos formas de domar ou refrear certos ímpetos mais individualistas e materialistas. Tudo isto requer um processo de ascese que tem que ser orientado, definindo prioridades e comportamentos. Falávamos há pouco tempo com elementos de uma determinada associação que nos visitou, da necessidade de criar uma nova personagem, contrariando até um pouco aquela coisa do “homem novo” que todos falam (até os comunistas) e que parece ser servido a la carte, consoante o gosto de cada um.
A Legião oferece a identificação a um Ideal Marcial, de Espírito de Corpo, cumprimento do dever e palavra dada, Honra portanto. Requer compromisso, perseverança, e respeito ou seja Fidelidade. Estaríamos a divagar se falássemos em monges-soldados e outras formulas impactantes que não serviriam mais do que alimentar os nossos egos.
Só os verdadeiramente livres se submetem à disciplina e hierarquia.
7. Recentemente surgiu na web uma louvável iniciativa que dá a conhecer a obra de Julius Evola, refiro-me ao Boletim Evoliano. Tem a LV alguma relação de colaboração com este projecto e como o encara?
- Ainda bem que nos colocam essa questão. O Boletim Evoliano surgiu por iniciativa de um senhor com o qual iniciamos contactos há já algum tempo. Tínhamos decidido pôr termo ao nosso boletim Horizonte Vertical e em boa hora surgiu a oportunidade de colaborar com essa iniciativa. Marcamos encontro pessoal, trocamos breves impressões, havia já na web alguma coisa publicada da qual se tomou mão e lançou-se o Boletim numero zero. A partir desta altura o referido senhor começou a ser convidado para participar em várias iniciativas da Legião e tem partilhado connosco algumas experiências, que têm sido muito gratificantes para ambos. A verdade é que o Boletim Evoliano se deve inteiramente a ele. Pena para nós que o N. ainda não se tenha decidido a dar o passo…que todos esperamos. Mas como em outras coisas na vida é preciso primeiro dizer o Sim de livre e espontânea vontade.
8. Em traços gerais, peço a enumeração dos principais problemas que afectam a nossa sociedade.
- Escrevemos em tempos – Que não chegaria um calhamaço para apontar aquilo que não gostamos no mundo moderno, da mesma forma que os psiquiatras norte-americanos diariamente anotam mais uma nova doença que a prodigiosa modernidade faz às mentes humanas. Num dos últimos textos que publicamos no nosso blog “Uma bala nas ideias…” mencionamos já alguns problemas e como tal não nos vamos aqui repetir.
Mas existem no nosso país verdadeiros sinais de alarme e de uma latente revolta por parte da chamada classe média que é a coluna vertebral das sociedades modernas baseadas no primado da economia. Há demasiadas famílias com a corda ao pescoço, fazem grandes sacrifícios para pagarem a educação dos filhos, os empréstimos das casas e para terem um carrito. Por outro lado passamos nas auto-estradas e elas estão cheias de topos de gama, passamos nos “bairros sociais” e encontramos topos de gama, as casas a preços exorbitantes são logo vendidas e os “bairros sociais” continuam a construir-se…percebem? Deixem que partam a coluna vertebral e dá-se a implosão…necessária! Por enquanto aprendamos a cavalgar o tigre.
9. Então, como poderemos nós mantermo-nos de pé entre ruinas, alimentando essa revota contra o mundo moderno, com vista a cavalgarmos o tigre?
- Voltando a olhar para as Pirâmides e querer fazer parte da sua eterna grandeza.
10. Derradeiras palavras para os leitores do Novopress.
- Já falamos milhentas vezes da necessidade de formar uma Primeira Trincheira… Meus caros amigos o vosso trabalho no NOVOPRESS é sem sombra de dúvidas, e sem falsos elogios, a Primeira Trincheira da blogosfera “nacionalista”. A realidade está à frente dos olhos. Leitura diária obrigatória.
E obrigado à gerência por esta oportunidade que deram à Legião Vertical.
Saudações Legionárias.

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domingo, agosto 12, 2007

Lembrar Aljubarrota, em Coruche 

Dia 14 de Agosto, Dia da Vitória Portuguesa na Batalha de Aljubarrota, faz-se o lançamento do livro "Crónicas da Nação" nas Festas de Coruche.
O Jornal de Coruche, lança no dia 14 de Agosto, no Parque do Sorraia, em Coruche, o Livro “Crónicas da Nação”, escrito por 33 personalidades da vida Nacional e Regional de Portugal, em edição coordenada por Abel Matos Santos.
O Livro "Crónicas da Nação" conta também com o contributo dos autores da Alameda Digital, José Luís Andrade e Pedro Guedes da Silva, e do nosso confrade do Portas do Cerco, Vitório Rosado Cardoso.

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Comemorar Aljubarrota 

Na próxima terça-feira é 14 de Agosto passa mais um aniversário da Batalha de Aljubarrota.
Os interessados em assinalar a data podem dirigir-se à Batalha, onde haverá celebrações durante essa manhã.
Quem quiser seguir de Lisboa poderá fazê-lo com a SHIP, e com o Guião - Centro de Estudos Portugueses.

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sábado, agosto 11, 2007

Edições Falcata 

São precisos distribuidores para as Edições Falcata.
Escrevam para: edicoesfalcata@gmail.com.

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Amândio César 

Na passagem dos vinte anos sobre a morte de Amândio César, que muito justamente tem vindo a ser lembrado pelo Nonas e pelo José Carlos, recordo o que escreveu António José de Brito logo na altura do seu falecimento (e que já tinha sido publicado aqui).

Pouco a pouco a solidão me vai rodeando e uma cortina de isolamento lentamente me cerca. Um a um desaparecem amigos de sempre, impiedosamente ceifados pela morte.
Não há muitos dias chegou até mim, de chofre a notícia do falecimento de Amândio César. Desceu sobre o meu ânimo um espesso sentimento de melancolia, ao passo que, simultaneamente, um turbilhão de imagens me afluía à mente.
Vi-me em Coimbra, primeirista de Direito, bisonho e tímido, entrando na Brasileira. Monárquico então (e monárquico continuo a ser, mas monárquico a sério, e não monárquico-democrático à P. P. M. ou à «Nova Monarquia»), sentava-me junto dos correligionários mais velhos que, caridosamente, me iniciavam no mundo dos boatos, da má língua e das querelas das ideias. Um pouco mais adiante, estava a mesa dos intelectuais que eu contemplava com invejoso respeito. Entre eles destacava-se Amândio César cuja voz tonitruante chegava até nós. Foi o meu primeiro contacto com ele, indirecto e à distância.
Não tardou, todavia, que Amândio César, por vezes, abancasse connosco e eu tivesse ocasião de apreciar a sua imensa vitalidade, a sua truculência, o seu humorismo irreverente. Claro que não fraternizámos logo. Eu retraía-me, acanhado, perante quem já tinha livros publicados, conhecia pessoalmente escritores e artistas de nomeada e proferia juízos acertados sobre individualidades a quem eu, na minha ingenuidade, admirava ainda. Mas, insensivelmente, fomo-nos aproximando. Amândio César, com a sua espontânea simpatia por quem começava, encarou com benevolência as minhas primeiras tentativas doutrinárias (que acabaram por me conduzir à filosofia), eu principiei a experimentar a fascinação da sua personalidade excepcional, espécie de força da natureza, sempre em ebulição e desconhecedora de respeitos humanos.
Uma grande admiração nos era comum — a admiração por Alfredo Pimenta. Ambos aguardávamos, com impaciência, os seus últimos volumes e opúsculos e Amândio César, que se correspondia com o Mestre, dava-me notícia dos projectos e opiniões deste.
À recordação de Alfredo Pimenta nos mantivemos ambos fiéis, tendo Amândio César consagrado valiosos trabalhos à obra do historiador de "Idade Média".
E quando no centenário do seu nascimento se promoveu, no Colégio Pio XII, em Lisboa, uma modesta sessão de homenagem à memória de Alfredo Pimenta, lá nos encontramos, de novo, Amândio César e eu, lado a lado, juntamente com Caetano Beirão, Goulart Nogueira, Couto Viana, Rodrigo Emílio, mostrando, pela nossa presença, que «nem nos esquecíamos, nem nos arrependíamos».
Nos nossos tempos de estudante, tão longínquos, acompanhávamos, na mesma trincheira, com entusiasmo e calor, as polémicas veementes contra os pseudo-monárquicos do "Diário Nacional" ou os furiosos ataques, de estilo camiliano, que o ensaísta de "O Imperialismo Contemporâneo" desferia sobre a «Academia Portuguesa de História».
Até que chegou o final dos cursos. O convívio quase constante, as longas peregrinações da baixa para a alta, pelas ruas desertas na madrugada, falando de omne re scibili, tomaram termo definitivo. Regressei ao Porto. Amândio César, após uns anos em Braga, fixou-se definitivamente em Lisboa. Mergulhou aí na agitação do jornalismo sem deixar de cultivar afincadamente a poesia, o conto, a crítica. Para o julgar, nesse plano, não tenho qualquer espécie de autoridade. Aí sou o simples leitor comum. E como leitor comum apreciava grandemente Amândio César, pensando que só não recebeu o incenso e a mirra dedicados a outros, de muito menos valor, por não ser um homem de esquerda, um progressista inflamado. A meu gosto, merecem destaque especial os estudos consagrados à literatura brasileira, que mostram amplos conhecimentos e por momentos análises delicadas e agudas.
Nem sempre partilhei as posições de Amândio César, ou participei do seu entusiasmo por certos personagens. Os nossos interesses fundamentais, de resto, eram bastante diferenciados: ele primordialmente entregue às letras e eu, no meu canto, procurando sulcar os trilhos da especulação.
Respeitámo-nos, sempre, porém, e a nossa estima mútua nunca diminuiu. Aliás, nos grandes momentos, Amândio César não deixava de vir a terreiro com atitudes desassombradas e dignificantes.
Assim sucedeu por altura da guerra em defesa da soberania portuguesa no Ultramar, a propósito da qual ele nos legou dois livros — um consagrado a Angola e outro à Guiné — com páginas magníficas que são o espelho de um firme nacionalista, ou seja, de um patriota de raiz.
E na grande catástrofe de Abril, Amândio César recusou-se a partilhar o banquete nauseabundo, sofrendo perseguições e agruras.
Na noite de 27 para 28 de Setembro de 1974, juntamente com Ruy Alvim, foi assaltado, ao atravessar a ponte sobre o Mondego, pelos delinquentes das barricadas que por meios violentos se procuravam opor à realização de uma manifestação, legalmente autorizada, ao Chefe de Estado, general Spínola. Este era um democrata e um abandonista de primeira água, mas assacavam-lhe, ao que parece, o terrível defeito de querer entregar as províncias ultramarinas de além-mar à influência americana e não à influência soviética (ao que havíamos chegado). Daí que não tivesse direito a manifestações que firmassem a sua quebrantada autoridade. Amândio César e Ruy Alvim (e uma criança filha deste) seguiam ambos para Lisboa perfeitamente alheios à apoteose spinolista. Reconhecidos e identificados, foram detidos por uma multidão à margem da lei e só por muita sorte conseguiram escapar.
Ao fim da manhã de 28 chegaram a minha casa, Amândio incólume graças a Deus, Ruy Alvim com pensos e adesivos, seu filho, que fora traiçoeiramente separado do pai para ser «interrogado», nervosíssimo, aos vómitos, tendo de ingerir comprimidos de Valium. Contaram-me os acontecimentos, ao mesmo tempo, que nos iam chegando notícias das arbitrárias prisões de velhos e queridos camaradas.
Amândio César e Ruy Alvim seguiram para Braga. Nessa noite transpuseram o Minho a caminho do exílio.
Amândio, primeiro, esteve em Espanha, donde me escreveu uma pungente carta de despedida, ao resolver partir para o Brasil. Não lhe foi este propício, infelizmente, pelo que teve de regressar, após o 25 de Novembro.
Na chegada ofereci-lhe um exemplar dos meus "Diálogos de Doutrina Anti-Democrática", que eu pusera à venda em pleno gonçalvismo.
Amândio César, em agradecimento, enviou-me um poema que me era dedicado, e que conservo com orgulho.
Fomo-nos encontrando cada vez mais raramente, afastados pelos afazeres prementes da luta pela sobrevivência, no mar de lama (para não lhe chamar outra coisa) em que a sublevação dos cravos precipitou esta terra que outrora foi uma nação.
Estivemos no primeiro almoço celebrando o início da Revolução Nacional, a 28 de Maio, e no jantar em idêntica data do ano seguinte, num e noutro tendo Amândio César proferido extraordinários discursos.
E, como já disse, participámos nas comemorações do centenário do nascimento de Alfredo Pimenta.
De longe a longe, trocávamos correspondência (sou muito preguiçoso em epistolografia). Até que, de repente, veio a doença que o vitimou e lhe diminuiu consideravelmente as capacidades. Visitei-o nas minhas rápidas e sobrecarregadas idas à capital numa única ocasião. Pesa-me na consciência não lhe ter aparecido com maior assiduidade, mas surgiam sempre contratempos nas deslocações a Lisboa que me impediam de o fazer. Mas já não há próxima vez, porque o irreparável deu-se.
Com Amândio César, foi como se tivesse desaparecido uma parte de mim mesmo, uma parte da minha juventude, daquilo que fui nos anos de 45, quando me sentava nos bancos da velha universidade coimbrã, sonhando com um Portugal renovado pela ampliação e aprofundamento do que de mais válido tinha o Estado Novo, e uma Europa ressurgida e heróica afastada dos miasmas torpes do demo-liberalismo e do marxismo.
À sua maneira, Amândio César comungou nestes sonhos e, sobretudo, nunca os traiu. Dos que nos acompanhavam, uns tantos iniciaram uma curiosa evolução que acabou por os conduzir a tombar nos braços dos vencedores, integrando-se nos corrilhos, nos partidos, nas Assembleias legislativas do regime abjecto que destruiu a Pátria. Outros mantiveram-se iguais a si próprios e, chegados ao ocaso da vida, recebem o prémio de ter vergonha na cara e não alinhar no cortejo dos adoradores do Sol Nascente; as campanhas de silêncio, a obscuridade, os vexames ou tentativas de vexame (porque não vexa quem quer) e as dificuldades financeiras. Amândio César alinhou entre os últimos e eis porque as trombetas da fama não o celebram com fervor no instante do seu falecimento, como acontece a qualquer medíocre abrilino que vai a enterrar.
Em compensação, pode escrever-se no seu túmulo o epitáfio de que raros, hoje, são dignos: «foi sempre um bom português».

António José de Brito
(In «O Diabo», 18.08.1987, pág. 12)

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quinta-feira, agosto 02, 2007

As Termópilas do Ocidente 

Seguindo uma sugestão feita pelo José Carlos há tempos, lembro hoje Amândio César. Esta casa, aliás, nestes três anos e meio, já por diversas vezes se honrou de publicar textos dele.
Este foi publicado no número 27 do "Tempo Presente", em 1961, no rescaldo da invasão e ocupação da Índia Portuguesa. É um comovedor documento, bem ilustrativo do sentimento e determinação com que os nacionalistas portugueses encaravam a guerra que Portugal travava, em todas as frentes. É um documento profético, para nossa desgraça. Portugal ofereceu o seu sangue e a sua vida em defesa de um Ocidente que o ignorou. O seu sacrifício deu ao Ocidente os anos necessários para que o próprio império soviético se enfraquecesse, abrisse fendas, e desabasse. Mas entretanto, ao fim desses 14 anos, também Portugal soçobrou. Leia-se Amândio César. Em sentido.

Morrer é uma Honra que Deus concede aos eleitos, libertando-os da matéria vil que envolve os homens. Morrer pela Pátria é uma honra que a História concede aos eleitos, libertando-os do igualitarismo que tudo nivela e tudo torna cinzento. Temos vindo a dar o nosso sangue, para que prossigamos como Povo livre e consciente das suas liberdades. A nossa cruzada não se limita aos alvores do Idade Média. Continua até aos nossos dias, à nossa própria hora, aos minutos que estamos vivendo. Por isso, o continuador dos reis que nos levaram à Índia, Sua Alteza Real o Duque de Bragança, pôde dizer, há dias, que éramos as Termópilas do Ocidente.
Quando os exércitos persas tentaram derramar o crime e a insídia oriental sobre um Ocidente que já então tinha valores a defender, um punhado de bravos ofereceu a sua vida em holocausto para que a terra sagrado da Grécia tivesse tempo de sacudir o torpor das cidades helénicas e salvar esses valores.
Eram poucos nas Termópilas e eram centenas de milhares os soldados do exército persa. No entanto, Leónidas não hesitou em da batalha sabendo, antecipadamente, que ele e os seus bravos ali fiariam, ali seriam sepultados, ali atestariam que vale a pena morrer, quando se morre pelo ideal sagrado da Pátria.
Também nós - em Goa, Damão e Diu - demos o nosso sangue, disparámos os nossos canhões, tangemos os nossos sinos, para que o Ocidente acorde do torpor que o invadiu e possa vencer a ameaça de ser subvertida todo o civilização de que somos herdeiros, essa civilização que da Europa levámos para o Oriente, muito antes dos mercadores que nos foram no rasto.
Sim, como nas Term6pilas, os nossos soldados tombaram primeiro pela Pátria e, lado o lado, por Deus, que Deus e Pátria estiveram sempre nos corações dos nossos bravos, ímpares, inigualáveis militares. E, se nas Termópilas ficou o legenda: “Cidadão, vai dizer o Esparta que aqui morremos, para obedecer à Lei”, nos muros desmantelados de Diu, de Damão e de Goa, ficou escrito em sangue: “Homens de todo o Mundo, ide e dizei ao Ocidente que aqui morremos para defender a Civilização Ocidental, a Civilização Greco-Latina, a Civilização de Cristo.”
Como nas Termópilas, mas maiores do que nas Termópilas: porque não lutámos apenas pela Pátria, mas, acima de tudo, pela Humanidade. E essa Humanidade de nossos dias, céptica e materialista, começou já a perceber que um grande Povo existe ainda, que diz não aos ventos do História, que diz não aos senhores do Mundo, não às ameaças soviéticas, Povo que acaba de escrever - como disseram os estudantes de Coimbra -, com o seu sangue, com o seu heroísmo, com o seu martírio, com a sua vida, o Canto XI de Os Lusíadas.
A legenda da História para os que tombaram ou para os que combateram escreveu-o Camões: “Ditosa Pátria que tais filhos tem.” A luta continua, mesmo que, palmo a palmo, a terra que nos foi roubada seja talada pela máquina infernal dos invasores. O Ocidente percebeu pela primeira vez que havia um grande pequeno Povo que lhe dava uma lição. E que essa lição não era a de abandonar o que pertence à civilização Ocidental, mas, sim, lutar, lutar sempre, lutar até ao fim, até que justiça nos seja feita, até que o nosso sacrifício, de haveres e de vidas, não seja inútil.
O cessar de fogo não significa que acabaram os nossos direitos. A mordaça não significa que as nossas vozes foram definitivamente abafadas. A ocupação não significa que a terra secular de Portugal deixou de nos pertencer.
Os Mortos mandam. Ordenam que, cada um de nós, no seu posto, continue a luta pela qual outros deram a vida - salvando com ela o que resto, ainda, do honra do Ocidente. Os Mortos mandam. E nós não podemos trair a sua vontade.
O Povo de Portugal não vira o rosto ao destino. Os dados foram lançados. Deus quer que prossigamos. Cumpramos o nosso dever, como os outros portugueses o souberam cumprir, a fim de que um dia se escreva, em todos os recantos do Terra, que os Portugueses souberam morrer para que a Civilização triunfasse.

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