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sábado, setembro 09, 2006

Um Manifesto de Direita 

POR UMA DIREITA MODERNA... MUITO ANTIGA, QUE APELE AO CHAMAMENTO NACIONAL

Uma tese polémico-doutrinária de Rodrigo Emílio

(A nossa gente não precisa de mudar de ideias; as nossas ideias, sim: essas é que talvez precisem de mudar de gente.)
Rodrigo Emílio

Desde todo o sempre que eu tenho reclamado para mim a dignidade de homem de Direita. De animal de Direita, melhor dizendo.

PARA UMA TIPIFICAÇÃO DO ANIMAL DE DIREITA. CARACTERIZAÇÃO E CONCEITUAÇÃO GERAIS ASSIM D’UMA QUE D’OUTRO

De direita sou, sempre fui e hei-de ser e permanecer, aqui e agora — e agora e sempre.
Mas é à direita propriamente dita, e só a ela, que me eu colo, bem entendido, e não, nunca por nunca, jamais, em tempo algum, à direita impropriamente dita — que também a há, também existe, e não é assim tão reduzida ou despicienda como isso..., bem pelo contrário.
A meus olhos, continua a haver, na verdade, uma direita propriamente dita e uma direita impropriamente dita, sendo que a direita propriamente dita é, quanto a mim, a direita que não convém à esquerda: e é essa, e essa mesmo — essa e não outra —, a direita a que pertenço, de corpo e alma, e de alma e coração.
Em contrapartida, a direita impropriamente dita virá a ser a direita que convém à esquerda, que lhe apara e ampara o jogo, que a ajuda a compôr o ramo, a perfazer o leque, a montar e a manter a farsa no cartaz.
Integram essa direita de vida fácil (na qual, Dieu merci!, estou, de antemão e à partida, isento de matricular-me, por não poder renunciar a ser inteligente, e como tal, poupado, desde logo, a ter de passar por esse grande vexame) os chamados tontinhos úteis — e, assim com`assim, inúteis — da parvoíce democrática cosmo-reinante, ou perto disso..., e exemplares adjacentes ou talvez correlativos, que todos — todos eles — alimentam prazenteiramente a combustão da mesma sem se fazerem rogados, conquanto deslembrados certamente de que a sobredita parvoíce democrática passará infalivelmente à História — mais tarde ou mais cedo, mais hoje mais amanhã, mais dia menos hora, mais década menos ano — como a grande tara, a maior crendice e a superstição, por excelência, do nosso tempo; inclusivamente, como a absurda, ou a abstrusa abstração que mais efusões de sangue tem causado, que mais kilolitros e kilolitros e kilolitros de sangue tem produzido por esse mundo todo a cabo. Haja em vista o imenso mapa côr-de-sangue em que está transformado todo o nosso grandioso espaço ultramarino...! E por obra de quê, ou por obra de quem, senão por obra e graça, por obra e gracinha, por obra e graçola e por obra e desgraça do ogre demo(ni)ocrático?!...
Continuando a rasgar caminho e revertendo, posto isto, à direita impropriamente dita, de que estávamos falando, sem demora se diga que, com essa meia-direita postiça, refalsada, por demais deslavada e muito bem­‑comportadinha, não desejo estar minimamente envolvido, não quero ser visto nem achado para nada, eu que sou autêntico e selvagem como os que o são.
Se há formações de direita (ou que passam por sê-lo...) a que de todo em todo não adiro, são, desde logo e justamente, as que se apresentam configuradas nessa direita gravidade inglesa — e inglesa curta, de mais a mais... —, povoada de gente formal à brava, sisuda que se farta, façanhuda e circunspecta como tudo: exemplares, enfim, com todo o ar, todo o arzinho de representarem a versão indígena dos conservadores e trabalhistas britânicos, mas que, entre nós, não botam figura senão de trapalhistas e conversadores...!

A SUI GENERIS DIREITA A QUE O AUTOR PERTENCE

Pessoalmente, inscrevo-me antes numa outra direita, diametralmente oposta a essa, e que vem a ser nada mais nada menos do que a chamada direita irreverente, desinibida, mal-comportada, se assim quiserem. De resto, sempre eu defendi e tenho sustentado que, se fôr preciso ter zero, ou abaixo de zero, «em comportamento», para se alcançar vinte «em fidelidade», ou para manter essa nota intacta, não há que hesitar: há que ter mesmo a coragem e a decência de tirar zero, ou abaixo de zero, «em comportamento».
Sou, confesso que sou, sim, sempre fui e, já agora por agora, quer-me bem parecer que haverei de continuar a ser, pelos tempos dos tempos, e até ao fim do meu fim..., um camelot da infracção e da transgressão — um desalinhado, pois (et pour cause...), sem cura nem emenda, sem remendo nem remédio, sempre fora da forma, fora de horas e ao revés da formatura, quando não de candeias mais ou menos às avessas com as bases de opção metodológica mais generalizadas e as linhas de (des)orientação processual mais seguidas e/ou mais conceituadas no plano ritual e mormente no que é do foro da liturgia. Bem vêem: adresse oblige (maladresse oblige)! Sagesse oblige, melhor dizendo.

DIREITA PROPRIAMENTE DITA E DIREITA IMPROPRIAMENTE DITA

Não é de direita quem quer ou quem pode; só quem merece, e sabe o que isso é, ou o que isso seja, estará em plenas condições de fazer jus a tão ingrato, nobilitante, embaraçoso e exigente epíteto. Mais: quem quiser ser de direita, terá, sobretudo, de «vestir-lhe a pele», a tempo inteiro — e não apenas de vez em quando... Quando toca a eleições, por exemplo..., ou a outra parvoíce semelhante, de carácter cíclico, como as regras...
Tudo isto, ao fim e ao cabo, corresponderá e equivalerá por dizer que não me considero eu de direita, no sentido propriamente cénico e parlamentar (ou para lamentar...) da expressão, mas na sua acepção original e originária, e, desde logo, mais pura e mais profunda: naquela que já levava a sociedade romana da Antiguidade a contrapôr a dextra (ou mão direita, símbolo e sinónimo de destreza, agilidade e até de sorte) à chamada sinistra (a mão esquerda, canhota e canhestra, símbolo e sinónimo de desastre, da inabilidade e do azar.).
De direita sou eu, ainda e também, e em plenitude de razão, na medida em que sempre para mim se tem tratado de romper caminho a eito e a direito, e nunca em ziguezague. Meter pela recta e rectilínea via, e nunca por desvios ou atalhos; seguir e singrar, em regular progressão, pelo directo e direito caminho, de sorte a cobrir — a vencer assim (sempre assim e só assim) a trajectória imposta ou proposta e talhada pela rota do percurso — geográfico, ideológico ou espiritual, vale o mesmo — que é suposto abrir-se, digo: rasgar­‑se, perfilar-se ao trânsito da jornada do homo viator na sua ascensão `té aos mais altos lugares do horizonte, — constitui-se como um dos traços definidores, por excelência, se não como o mais marcante mesmo, do homem de direita que intrinsecamente o é, desde as horas cimeiras do cesarismo imperial, já que era com base numa rede de acesso (de longo curso) linearmente vertebrada, e num sistema de traçados comunicantes, assim gizado, que todos os caminhos vão dar a Roma, nesses entonces...
Finalmente, ao reivindicar para mim a alta e sempre ingrata — posto que assaz nobilitante — qualidade de espécime de direita, não perco igualmente de vista a cardinalícia ideia de que é à direita de Deus-Pai que têm assento os Justos, uma vez que, à Sua esquerda, nem a gente sabe muito bem ao certo quem Lá se senta..., embora não seja difícil de calcular...!
São estas, em suma — estas e não outras —, as razões de fundo, e de mais peso, que fazem da Direita um conceito anterior e superior a tôdolos demais.
São também estas as razões por que espero, já agora, ter entrado, no vestíbulo desta peça de reflexão, não digo que com o pé direito, visto que o que escrevo não me passa propriamente pelos pés — pelo direito que seja... —, como com tantos sucede..., mas digamos que com a mão direita conto ter atacado o atrium deste meu depoimento. Oxalá que sim!
Prosseguindo e recapitulando. Sinto-me perfeitamente conotado, pois, e literalmente cingido, e vinculado, ao universo, ao «imaginarium» e ao «idearium» de Direita (admito, sem esforço, e de boamente convenho que a um quadrante e estilo bastante «sui generis» da mesma), desde que me conheço e me lembro de mim — ao fim e ao cabo, desde a minha mais baixa-infância —, por acção e efeito de uma vasta e frondosa constelação de factores mentais, sacramentais, temperamentais, sentimentais, sanguíneo-sensoriais, culturais, estéticos e outros..., — sendo que, a cada dia e hora que passam, mais esses mesmos elementos e factores vivamente me certificam e, por outro lado, me confirmam na minha estrutural aversão à esquerda, na minha orgânica, visceral e insanável incompatibilidade com a mesma, e com os farrapos de ideias que contempla, com os voláteis pressupostos que segrega, os andrajosos postulados que enuncia, a indigência das fórmulas que propõe, e a maltrapice e a trapalhice do discurso que debita.

DA DIREITA QUE CONVÉM À ESQUERDA E DAQUELA QUE À ESQUERDA NÃO CONVÉM DE TODO

Vem de longe, aliás, essa alergia minha à esquerda. No fundo, é tão antiga como eu. Para tudo — ou quase tudo — dizer, de uma só vez, de jacto e sans ambages, aditarei, já de caminho, que desde cedo — entenda-se: desde sempre — intuí, pressenti, percebi ou me apercebi eu, e reiteradamente tenho tido — dia sim, dia sim — mil milhentos milhares de ocasiões, flagrantes, e mais do que múltiplas oportunidades, de comprovar: que a esquerda pensa feio, lá onde a direita pensa belo; que a esquerda pensa (em) falso e pensa baixo, lá onde a direita pensa alto e pensa fundo; que a esquerda pensa mal, pensa malzinho que se farta, lá onde a direita pensa geralmente bem; que a esquerda pensa que pensa e que, portanto, existe, lá onde a direita pensa mesmo — de facto, e sem favor, na rigorosa acepção do termo.
***
O papel que direita e esquerda têm invariavelmente desempenhado no concerto dinâmico da História, um pouco por todo o lado — e, no estrito âmbito da História indígena, de 1834, sobretudo, a esta parte —, é extremamente simples de resumir e de caracterizar, se nos confinarmos a dizer que a direita faz e que a esquerda, essa, desfaz, para a direita refazer, de novo, e a esquerda voltar a desfazer... e assim sucessivamente...
São essas as grandes especialidades de uma e de outra e diferem entre si, consoante se vê, como o dia da noite.

ESQUERDA, DIREITA... E MEIA-DIREITA

Por outro lado, gaba-se, geralmente, a esquerda de ter uma ideia — uma certa ideia — de tudo e de mais alguma coisa: «tenho uma certa ideia da França», costumava afirmar, a torto e a direito, o tristemente célebre general De Gaulle.
A incerta e duvidosa «ideia» que ele tinha da França, como ideia que era, ou que presumia ser, constituía, em si mesmo, uma desalmada — e hezagonal – abstracção, à qual Sua Imponência sacrificou, de mão beijada, sem escrúpulos nem contemplações, e a poder da imersão da sociedade francesa em mais um banho de sangue, a imagem de uma construção tão concreta e tangível como vinha a ser o corpo histórico, territorial e humano da Argélia Francesa.
A direita, essa, antes de ter uma ideia seja do que for, tem das coisas sagradas e/ou profanas que ama, e que defende, uma imagem real e bem visível, digamos mesmo que uma imagem fotográfica.

DE COMO COMEÇAR POR TER UMA IMAGEM DE TUDO É MUITÍSSIMO MAIS AVISADO E FRANCAMENTE PREFERÍVEL A DE TUDO COMEÇAR POR NÃO TER SE NÃO UMA IDEIA – UMA FRACA IDEIA

Mais do que uma noção de Pátria, ou do que uma ideia de Nação, a direita tem d`Elas uma imagem, uma imagem física, que lhe é dada, desde logo, pela geografia. É para isso, também para isso, que a geografia serve: para nos pôr diante dos olhos o retrato da Pátria, a imagem do rosto e do corpo da Pátria e lembrar-nos que um e outro são tão susceptíveis de sofrer amputações e/ou mutilações que os desfigurem e os tornem irreconhecíveis, como o rosto amado do nosso próprio Pai ou a flamejante figura da mulher benquerida.
Os povos levantam-se da geografia para a História, mas é na geografia que o seu destino se inscreve.
Quando, de pensamento e território, se possui antes de tudo uma imagem, tem-se, automaticamente, muito mais e muito maior cuidado com eles do que quando deles se tem só, ou sobretudo, uma ideia: uma vaga ideia, uma ideia fixa ou uma ideia feita.
E também nisto a mentalidade de direita se distingue da de esquerda, como um ovo de um espeto!
Por mim, está claro que antes me quero, neste caso, com o ovo. Por mais esbelto que o espeto seja ou possa parecer...
Uma das mais distintivas marcas, e outro – mais outro – dos traços marcantes, que tipificam o homem de Direita como animal de raça apuradíssima, que faz grand état do seu pedigree, e para ele apela o tempo todo, como se dos pergaminhos de uma comenda-de-honra se tratasse, vêm a ser os que o levam a concitar, a cada passo, a comparência a capítulo de quantos Guias, Mestres e Amigos lhe juncaram e talharam e iluminaram o caminho criador, e ideológico, por onde a sua aventura, pessoal e individual, se plasmou.
Em Artur Anselmo teve a segunda leva da geração decimal de 60, a que me ufano de pertencer, o polo de fixação concentracionário — e, à uma, irradiante — de energias; o condutor e piloto, sempre avisado, de pensamentos, palavras e obras — literárias, e não só..., e um dos mais aguerridos animadores da mística que pôs as nossas convicções em marcha. Não tem preço contabilizável o quanto lhe ficámos a dever. Não há saldo que resgate a dívida incalculável que com ele contraímos. A constância de uma estima — intelectual e afectiva — sem limites, a consagração de um culto indefectível, e de aturada e reiterada fidelidade, que, mesmo a estas horas (há muito atingida já a nossa maioridade mental), ainda não cessou de se aditar, é tudo quanto temos para oferecer-lhe em troca de tudo. É tudo, também, o que Artur Anselmo, pela certa, mais preza advertir em nós: a pequena prova de uma grande devoção, sempre igual e sempre e sempre renovada.
Mais directamente, talvez — digo: mais incisiva e incidentemente —, do que os mais, foi Artur Anselmo, foi ele, de facto, quem doutrinariamente pegou em nós e, esclarecido e esclarecedor, atirou connosco — o mesmo vale dizer com o mais vocacionado sector de toda uma geração — para o campo de batalha da literatura de ideias.
A impopularidade (já, ao tempo, suicida) das opções que, sob a sua tónica influência, desde logo adregámos chamar a nós, teve — está visto que sim — carácter a bem dizer premonitório. Com efeito, pouco tardaram os acontecimentos de 61 — e, mais ainda, os desse negro, negrinho e negregado ano de 74 — a sagrar em nós uma das mais expiatórias gerações da nossa História contemporânea (taco-a-taco, ou perto disso, com a de 1834 e com a de 1910...). Graças, em grande parte, a ele — estávamos preparados para o ser. E tanto mais, quanto é certo que, em ordem ao guarnecimento cultural dos nossos espíritos, não menos temos que ver com Artur Anselmo, porque não menos tributários somos da acção altamente norteante que junto de nós desenvolveu ele, mormente em matéria de formação, e de informação, histórico-estéticas. Todo o vitalismo superador que temperamentalmente configura a nossa maneira poética e política de ser e de estar aqui e agora, e agora e sempre, nós o bebemos em obras e autores que Artur Anselmo — de par com outros preceptores da mesma progénie, e no encalço de Mestres que ele próprio elegera para si — criteriosamente foi administrando ao convívio, audiência, audição e à intimidade de todos nós, em ordem a prover e promover a ocupação e preenchimento de alguns postos de combate intelectual, e criador, nesse grande, inglório e sempre aceso teatro-de-operações.
Com isto, não se trata, aqui, bem entendido, de endossar e/ou de assacar a segundos, a terceiros ou a quem quer que seja, a mais pequenina parcela ou fracção de culpa pelo que somos, ideologicamente falando, ou ponta de responsabilidade, de qualquer espécie, por aquilo em que eventualmente nos tornámos.
Por mim, e no que mais directa ou exclusivamente me concerne, já o eu tenho dito, redito, repetido e reiterado, sem folga nem descanso, e até à exaustão: com Mestres, ou sem Eles à ilharga, com Guias ou sem Guias a assistir-me — e independentemente do maior ou menor grau e/ou magistério de influência que tenham ou não tenham eles exercido sobre mim —, eu cá seria sempre o monárquico fascizante que sou — e monárquico que ainda agora não ratificou a Convenção de Évora-Monte —. Seria, sim, seria eu, de toda a maneira, o fascizante nacionalista e monárquico que sou, que tenho sido, sempre fui e que hei-de ser e permanecer, aqui e agora, e agora e sempre.
Sê-lo-ia, em qualquer circunstância.
Desde logo, por pendor, inclinação e propensão naturais.
Sê-lo-ia, outrossim, por via instintiva, ou por via intuitiva, que mais não seja.
Sê-lo-ia, inclusive — sê-lo-ia, sobretudo —, por factores de cariz estrutural e sanguíneo, que se prendem com a medular conformação do meu carácter — marcas e/ou traços de base tipológica, anteriores e superiores a mim, que procedem do puro foro do anímico; elementos de feição psicossomática, que relevam do âmbito e da área do ontológico; dados genéticos, energéticos e sinergéticos, de tónus voltaico e de recorte voluntarista, que me irrigam vasos, veias e artérias, desde a hora da origem; componentes elementares genuínas, pois, e de raiz, ou até mesmo pré-natais, de que me eu fiz e/ou me fizeram portador, transmitidas, como tal, a cromossomas e glóbulos, e que, impressas à nascença, nuns e noutros, assim ditaram, determinaram e/ou dictaminaram, logo à partida, todo o quadro ou/e quadrante mental, sentimental, sacramental, temperamental e comportamental de fundo que me assiste desde o berço, desde o ventre, e que até à tumba me acompanhará, não havendo, portanto, nesse ponto, nada a fazer. Bem vêem: o que direito nasce, tarde ou nunca se entorta ou se esquerdiza...
(Tenho eu igualmente por certo que a Providência, a própria Providência, ao invés do que se propala, não escreve tal direito por linhas tortas, sendo tão boa em caligrafia como no resto...
A Providência só pode escrever direito por linhas direitas.
O mais é ideia feita, que se quer desfeita quanto antes, conversa de chacha ou conversa fiada em que não há que fiar...)
Prosseguindo e sintetizando. De direita, e monárquico nacionalista e fascizante, sê-lo-ia sempre, por estas e por outras, com Mestres ou sem Mestres, com Guias ou sem Eles à minha beira. Necessária e inevitavelmente.
Que fique isto bem claro, e claramente declarado hic et nunc et nunc et semper, e de uma vez por todas.
Só que, sem Guias a assistir-me, sem Mestres a nortearem-me, seria eu um nacionalista e um monárquico fascizante ainda menos esclarecido e esclarecedor do que o que sou. Apenas isso.
O idearium e o imaginarium que cedo abracei — e aos quais tenciono morrer abraçado-, por minha conta e risco os abracei. No fundo, ou/e quando muito, limitei-me a seguir e a observar, ao fim e ao cabo, a lição dos maiores e dos melhores de todos nós. A única culpa que lhes assiste a eles, a única que têm no cartório, é essa e essa mesmo: a de serem, real e efectivamente, os melhores ou de se terem a meus olhos perfilado como tal e de os ter a minha mente elegido por melhores. Mas disso não têm eles, no fundo, culpa alguma. Nem eles nem eu. Sempre assim foi: desde que o mundo é mundo que a grandeza das ideias é gerada pela magnitude dos homens que as incarnam e professam, sendo a inversa igualmente verdadeira, do ponto e/ou na medida em que as grandes ideias geram e gerem elas, por seu turno, os grandes homens que as inspiram, e que tendem para elas a bem dizer desde que nascem, por um quase fenómeno de magnetismo.
Não tem mais que saber. E tudo o que a mais se diga é literatura. (Má literatura, aliás. Ou paleio barato... Ou treta alugada, retórica linguareira, fretada a bestuntos de vida fácil e outras caixas não-encefálicas...
Dito isto, nunca será demais encarecer, em todo o caso — e volto assim ao ponto de partida —, a acção altamente encaminhadora que, junto de nós todos (e, ao mais, não éramos muitos...), profíquamente desenvolveu Artur Anselmo — e alguns outros (aliás, poucos; aliás, raros) preceptores e guias seus semelhantes e mais ou menos da mesma estirpe.

«PARA UMA GENEALOGIA CULTURAL DE BASE NACIONAL‑UNIVERSALISTA»

Entre os vultos do pensamento indígena que mais fundo — e a fundo — me marcaram, importa pôr aqui de manifesto os forjadores daquele espírito nacional-universalista que inflamou, durante séculos, Portugal, e O tangeu e espraiou por meio-mundo e outro meio.
Foi à luz vivificante desse espírito, e gracinhas a ele, que todos nós por largo tempo nos persignámos — em nome do Norte, do Sul, do Leste e do Oeste —, assim na terra como no mar.
Aos grandes dispensadores e intérpretes desse espírito, não fiquei eu, realmente, a dever pouco: assim com`assim, bastará talvez dizer que me ensinaram eles a sentir em português o que não é de sentir senão em português, e a pensar em português o que só em português pode e deve ser pensado.
Inscrevem-se nesse número e estão nesse caso: o Gil Vicente da «Exortação da Guerra» e o Camões d`«Os Lusíadas»; os escritos quinto‑imperiais do Padre António Vieira; o José Agostinho de Macedo d`«A Besta Esfolada», e nem só...; toda — mas toda! — a teoria legitimista declarada a público por meu quarto-avô paterno, Ribeiro Saraiva; as páginas miguelistas de Camilo e as anti-pombalinas páginas do mesmíssimo Camilo; o António Sardinha de «Valor da Raça» e «Durante a Fogueira», «A Prol do Comum» e «Na Feira dos Mitos», privilegiando embora a fenomenal doutrinação que suministrou em verso; o Afonso Lopes Vieira da «Nova Demanda do Graal» e não só...; o Carlos Malheiro Dias da «Exortação à Mocidade»; muita da conceituação contra-revolucionária de Fernando Pessoa; os pensamentos, palavras e obras produzidos por Salazar depois de ser Poder; as Cartas Pastorais do Cardeal Cerejeira; todo o soberbo magistério político e ideológico que foi desenvolvido por Alfredo Pimenta nos últimos doze, treze anos de vida (das páginas d`«A Esfera» e d`«A Nação Portuguesa» aos derradeiros opúsculos, diatribes e libelos); o Miguel Torga dos «Poemas Ibéricos»; a poesia toda e toda (ou quase toda) a prosa de Goulart Nogueira; o «Destino do Nacionalismo Português», de António José de Brito, e os seus «Diálogos de Doutrina Anti-Democrática», o Carlos Eduardo de Soveral de «Lanças n`África», e nem só...; a obra poética integral de António Manuel Couto Viana; e o etc;... da praxe (mais magro, porém, do que é costume).
Mas outros grandes guias tenho tido a fortuna de topar no meu caminho, e que não só me saíram ao caminho, como até, inclusive, o talharam, de forma a eu poder romper por ele a eito e a direito e nunca em ziguezague.
Estou-me referindo, obviamente, aos grandes forjadores espirituais de uma Europa que tende, desde sempre, a evocar, em mim, a imagem de uma rapariga moderna... muito antiga.
Schopenhauer e a visão do mundo como representação da vontade; toda a predicação nietzscheana, e também a de Spengler, e também a de Keyserling; as Reflexões sobre a Violência, de Georges Sorel, o realismo integral de Charles Maurras, o germanoromantismo de Maurice Barrès, as formulações de Gentile sobre a eticidade do Estado, as de Martin Heidegger sobre «a mansão do Ser», a estética raciológica de Gobineau e de A. Rosenberg (assim como as de Günther, Clauss, Darré, Céline, Binet e Henri-Robert Petit), a cogitação radical-tradicionalista formalizada por Joseph De Maîstre; o pensamento aristocrático e aristocrítico de alguns poucos de grandes isolados como Evola, Cioran e Montherlant; a teologia política de Carl Schmitt, o esoterismo tântrico-mágico de Miguel Serrano: eis os ídolos e ideais que mais poderosa influência exerceram sobre mim.
A lista, porém, só não ficará incompleta demais, se nela também figurarem: os tradicionalistas de todos os tempos e lugares (já Vásquez de Mella lá dizia que «Tudo o que não é tradição é plágio»); os futuristas e corporativistas portugueses, italianos e espanhóis; os nacionais-sindicalistas espanhóis e portugueses; todo o fascismo e esteticismo intelectual britânico; o legado literário em peso e o vivo exemplarismo de toda a geração colaboracionista francesa; aquela grande raça de polemistas e predicadores sagrados (Bloy, Bernanos, Chesterton, Papini e o Gustavo Corção d`«O Século do Nada») que sempre, e de ginjeira, tão bem souberam destrinçar, e distinguir, à légua, Cristianismo de cristianice, e às vezes se incompatibilizaram e se puseram de mal com o mais efémero da Igreja temporal por amor de Deus e da Igreja eterna, quando não apontaram mesmo — alguns deles, ao menos — para certas formas de catolicismo anti-clerical ou de anti-clericalismo católico, digamos assim, orientando-se de preferência os outros para um catolicismo não-catolaico e não-profano — isto é: para uma catolicidade propriamente dita e, como tal, nunca por nunca dessacralizante ou desierarquizada —, de altíssima voltagem e de radiosa estirpe; e ainda aqueles, enfim, que, como Santa Catarina de Siena, ou como Mishima e Léon Degrelle, não se têm limitado a escrever com tinta, mas também com o sangue — e, sobretudo, com o exemplo.
Acolhi-me, assim, à suma tutela dos que em si realizaram o sincretismo supremo da tinta e do sangue.
Recebi preceptorado criador e acatei eu, em suma, o mestrado espiritual daqueles que se soergueram, «em nevoeiro e em mito», aos acenos de Deus e às audições da Pátria. Foram-me confrades, particularmente caros e dilectos, todos os grandes isolados das Letras, todos os sacrificados e crucificados da escrita, esses que reclinados viveram, a seus umbrais cantando toadas de Amor e Morte com palavras da infância...
De uma ou de outra forma, todos, afinal, se chegaram a mim para me ministrarem mensagens de energia sob enchentes de sonho; e para me dizerem: que «não se entra no heroísmo como se entra para a Escola Militar»; que «não se alcança a santidade como se alcança o seminário»; que «não se reza a Deus Nosso Senhor nos mesmos termos em que se arenga às turbas», e que a Europa que convém, aos Estados Unidos não nos convém, como não nos convém a Europa que convém, que convinha e que continua a convir à ex‑chamada União Soviética.
E eis

OS 10 PONTOS CARDIAIS DA ACÇÃO FUNDACIONAL‑NACIONALISTA

que acto contínuo, e desde aqui, preconizamos, em ordem a dar rosto, corpo, alma e plena vertebração dorsal às estruturas de combate da Direita («sui generis», não digo que não...) a que pertenço. A saber:
I – Produção de futuro para o destino de Portugal, mediante a fundação de vias que O reconduzam do malogro ao milagre, no mais curto prazo de tempo. Para tal, promover, por todos os meios — «incluindo os legais», como dizia Maurras, por menos legítimos que eles se apresentem... — a restauração do regime monárquico e da instuição real, erigidos em bases tradicionais­‑vanguardistas, e não à media-luz de um passadismo ou tradicionalismo congelados e por de mais empedernidos.
II – Instauração e implementação de um projecto político de raiz fundacional-nacionalista e de feição tradicional-revolucionária, de tão abrangente espectro e de latitude e amplitude tais, que nos devolva ele a faculdade de contemplar o corpo da Pátria em todos e em cada um dos Seus membros, passados, presentes e vindouros.
III – (Re)conversão do figurino baixamente reivindicativo da sociedade actual, e transformação radical da mesma num corpo social de recorte combativo, que privilegie a nobreza dos desígnios espirituais e da acção idealista, sobre o materialismo básico das primeiras necessidades — que, nem por serem assim chamadas, deverão deixar de ser tidas como as últimas das últimas, na ordem geral de prioridades.
IV – Promoção e desenvolvimento de uma dinâmica social de sentido aristocratizante, tão ampla quanto possível, fundada na assunção de um espírito de desprendimento senhorial generalizado, e visando à criação de uma mentalidade colectiva de tónus aristocrático que aponte, globalmente, para a formação e estabelecimento de uma vasta aristocracia de almas fortes.
V – Fomentar, estimular, intensificar e consolidar, em todos os estratos e escalões do universo e da comunidade lusíadas, o sentido histórico de permanência na continuidade, em desprimor do que é da ordem do transitório e do imediato ou da esfera da contingência e do acessório. À luz de um tal painel-piloto, e de acordo, isto é: em plena, perfeita e total conformidade com a perspectiva condutora que o assiste, cumpre advogar, naturalmente, a subordinação do que é do foro ou do domínio do social e do sindical aos grandes desígnios de fundo do projecto histórico nacional e consagra a subalternização do que é do âmbito do económico a tudo o que seja da área da criação estética e cultural. E eis o que cumpre dizer carrément às abelhinhas e aos abelhudos da Informação que nos rotulem d`isto e mais d`aquilo. Elucidar essa gente é uma obra de misericórdia, combater a sua ecléctica e enciclopédica ignorância, uma medida profiláctica.
Desgraçadamente, ideias, letras e algarismos são, hoje, por hoje, motivo de embaraço quase geral, entre nós outros. Não o eram, contudo, no tempo de Salazar — que sabia, ele, ler, escrever e contar na perfeição.
Antes, depois e acima de tudo, lutemos, sem folga nem descanso, contra o analfabetismo galopante de todos os primeiros-ministros — recentes, presentes e futuros — que confessem não saber, bem ao certo, o número de Cantos de que se compõem Os Lusíadas, e muito menos a matéria dos mesmos.
«Suas Indigências» desconhecem, de todo, e desde logo, que não saber o número de Cantos que integram Os Lusíadas corresponde a não conhecer os cantos à casa: a esta cada vez mais «piquena»-Grande «Casa Lusitana». É, rigorosamente, a mesma coisa.
Se o visado «estadista» social-patarata porventura soubesse o que representou Macau na vida e na obra de Camões — que em Macau compôs boa parte d`Os Lusíadas —, talvez não tivesse aposto a sua airosa assinatura ao «trespasse» do enclave para as «unhas» trituradoras da China Vermelha..., e talvez não se tivesse revelado um eurocancro tão aplicado e diligente como foi, ao ponto de ter hipotecado a última réstea — ou os últimos restos — do que somos, no sumidoiro sem fundo de Maastricht.
O mais pitoresco disto tudo é que, depois, já depois de admitir — digo: logo depois de ter tido o desplante de manifestar, e de convir, publicamente — que o número de Cantos d`Os Lusíadas constitui, para si, um enigma policial indecifrável, teve o figurete a lata estanhada de proclamar, com toda a prosápia e mais alguma — imaginem só!... —, que adregara alcançar, em tempo útil (hélas!), o «topo cimeiro da carreira catedrática».
Pois bem. Entre um ex-primeiro-ministro — está visto que, em democracia, os primeiros são realmente os últimos, não há mesmo dúvida nenhuma...! —, entre um primeiro-ministro que se gaba de ter atingido o mais alpestre patamar do estrelato universitário, sem saber qual o número exacto de Cantos de que se compôem Os Lusíadas, e um «puto» da terceira atrasada do meu tempo, que já sabia isso e muito mais..., eu, por mim, não hesito: vou, de caras, pelo «puto» da terceira atrasada de antanho.
A diferença que os separa é aquela que separará sempre um Português de um estrangeirado: um Português em germe, e em ponto pequeno, mas com P grande, de um estrangeirado de todo o tamanho, talhado à peça — talhado à peça e confeccionado à pressa em foleira fazenda da mala-(ir)real anglo-algarvia, — e desalmado como um capataz d`Abril!
Contra isto, valha-nos – ainda e sempre – o espírito incurso na Revolução de Maio de 1926, que em permanência convocamos. Quer dizer:
VI – Urge reabilitar de alto a baixo, promover e cultivar ao máximo, revalorizar e privilegiar sempre, na medida do impossível (e quanto antes, melhor!), a consideração estética e a abordagem cultural do fenómeno político, não perdendo jamais de vista – antes tendo sempre bem presente – a advertência que, em seu dia, e em boa hora, chegou a ser feita, a esse respeito, por um doutrinador que muito prezamos: o contra-revolucionário Thomas Molnar, quando, do alto da sua autoridade, sustentou, e bem, que, hoje por hoje, as grandes batalhas ideológicas e políticas vencem-se ou perdem-se culturalmente – e, as mais das vezes, ganham-se ou perdem-se literariamente e por via artística.
Reafirmação, pois, da importância transcendente e do valor – do valor insubstituível, quando não do primado – da produção artística, como sumo sinal de identidade e da vitalidade de qualquer Povo, alavanca-mor das suas mais vivas raízes ontológicas e, inclusive, como força-motriz, por excelência, da marcha do progresso da comunidade e da potência criadora da mesma.
VII – Providenciar, assim, com carácter de urgência, – e mais que de urgência: de primeiríssima prioridade –, no sentido de prover à regeneração, reconstrução e reconstituição do tecido cultural da Nação, literalmente dilacerado e integralmente desfeito pelos “gangsters” de 74.
VIII – Incrementar, por todos os meios, a todos os níveis e em todos os planos, uma política global do bom-gosto, tendente a combater, com plena eficácia, o culto generalizado da fealdade e o crescente apego à pimbalhice, à piroseira e ao possidonismo, – vectores de degenerescência que por cá se instalaram, na sequência da tratantada de Abril, dando toda a ideia ou a sensação de que vieram para ficar.
Instaurados, instituídos e amplamente lisonjeados pela meia-tijela (ou tijela-e-meia?) mental, e social, que tomou de assalto o aparelho do Estado – e,por tabela, o grosso do País – no transcurso do negro, negrinho e negregado ano de 74, têm esses factores de degradação do gosto, e de desagregação e deterioração da sensibilidade estética, afectado e comprometido, seriamente, a qualidade média de vida do corpo colectivo português, do seu meio-ambiente, do seu quotidiano, a qualidade geral da nossa música (mormente da música ligeira) e da nossa arquitectura paisagística, assim como de tudo o mais, – impondo-se que sejam, sem demora, objecto de um tratamento de choque radical inadiável, a implementar, na prática, através do fomento e aplicação de uma altiva e activa política do Espírito e de (re)educação do gosto, em tudo idêntica à que foi gizada e superiormente dinamizada e conduzida, noutros tempos, pelo génio incomparável de António Ferro.
IX – Potenciação do ideal e do sentido de Justiça no exercício prático da Jurisprudência.
X – Recondução da imagem ancilar – e armilar – da Pátria à dignidade, que Lhe assiste, de síntese suprema do Solo e do Sangue, simbiose plena do Ser e do Estar e, até mesmo, do Ter; elevação da ideia primordial de Nação, e de toda a conceituação — natural e sobrenatural — que Lhe é inerente, à sua topogenia de primeiro e último reduto de corpos e almas, dons e haveres.
Salvaguarda integral da noção de Nação face à ameaça de morte que sobre ela impende, através de uma neutralização frontal da «Operação Maastrichtt», e de tudo o que, na mesma, tenda a hipotecar a última réstea — e os últimos restos mortais — do que fomos e somos, no euro-sorvedouro desse nome.
Assunção do espírito nacionalista e sua auto-inscrição no painel universalista do ideal europeu.

Em ordem a iluminar, ainda, e melhor um pouco, a constelação de conceitos, princípios e valores que povoam o firmamento ideológico da Direita a que pessoalmente me acolho, não se me dá, já agora, de propôr a destino mais um sucinto feixe de fórmulas e enunciados programáticos e de linhas de orientamento geral, sobre tópicos doutrinários de tão capital importância como, por exemplo, vêm a ser:

«PRINCÍPIO MONÁRQUICO E SOLUÇÃO REAL»

Como aí já por mais de uma vez deixei dito e escrito, sou e sempre fui defensor declarado do antigo regime; e valha a verdade que não só do chamado antigo regime, como de um regime muito mais antigo do que o antigo regime — e que este invariavelmente soube honrar. (Oxalá a inversa fosse, também ela, verdadeira...! Como monárquico, pesa-me reconhecer que o não tem sido).
Devo igualmente dizer que, como monárquico (e monárquico que ainda agora não ratificou a Convenção de Évora-Monte), nunca tive, não tenho — nem tenho que ter — qualquer ponta de complacência e muito menos de respeito, ou a mais pequena sombra de interesse, por órgãos, funções, instituições e exemplares republicanos ou democráticos, como são os que vicejam neste anti-Portugal em má hora engendrado pelos escravos dos «cravos»
(Com isto, não sei até que ponto é que estou ferindo as susceptibilidades liberais e os pruridos parlamentares de muito monárquico impropriamente dito que para aí blatera e que por aí deputa. Mas com tais melindres posso eu bem...) Não posso é obliterar, isso não, entre outras igualmente preciosas razões, as razões de ouro em boa hora aduzidas pelo Conducator da histórica Legião de São Miguel Arcanjo, e carismático fundador da Guarda de Ferro, da Roménia, Corneliu Zelea CODREANU, num incomparável trecho de sua lavoura, acerca da permanente e irrefutável validade do ideal monárquico, e da lei que o rege — peça de doutrinação tão decisiva quanto mal conhecida, levando por título

«A MONARQUIA E A SUA LEI»

e que reza assim:
«À frente da Raça, e sobrepondo‑se aos seus núcleos de selecção, avulta a Monarquia.
Recuso a república.
Ao longo da História, bons Monarcas houve, muitos deles óptimos, alguns débeis, outros maus; uns, honrados, e que fruiram do amor do(s) seu(s) povo(s) até ao fim da vida; outros houve a quem cortaram a cabeça.
Nem todos os Monarcas foram bons.
A Monarquia, em si, porém, sempre foi boa: é sempre boa.
Convém não confundir a instituição ou regime com os homens que, episodicamente, povoaram ou povoam uma e outro, deduzindo daí conclusões precipitadas e/ou daí retirando falsas consequências.
Pode haver maus sacerdotes e nem por isso é lícito admitir a eventualidade – ou advogar a necessidade – de se proceder à extinção e abolição da religião, à dissolução da Igreja, à refutação de Deus.
Há, seguramente que sim, Monarcas débeis, outros maus, mas não se segue daí que possamos, lá por isso, contestar ou rejeitar a Monarquia, pôr em dúvida e em causa a perene e sempiterna validade da mesma.
Na faina agrícola, a um ano bom sucede um mau, ou dois maus anos a fio seguem‑se, por vezes, a um bom; apesar disso, não passa pela cabeça de ninguém a ideia de abandonar a agricultura por tão pouco.
Faz um Rei o que quer? E então, nesse caso, quando é que Ele é grande, quando é que é pequeno? Quando é bom e quando mau?
Um Monarca não faz só o que bem Lhe apetece; um Monarca é pequeno quando faz o que quer, e grande quando faz o que deve.
Existe uma linha da vida da Raça. Um Monarca é grande e é bom sempre que se mantém fiei a essa linha, e dentro dela, e pequeno e mau na medida em que dela se afaste ou que a ela se oponha.
Esta é a lei da Monarquia.
Outras linhas há que podem também fascinar um Monarca: a linha dos interesses pessoais, a dos interesses de grupo, a dos de casta e extracção social, a dos interesses sectoriais, a linha dos interesses estrangeiros, seja ela abraçada intra ou extramuros.
Deve o Monarca postergá‑las, a todas, e seguir a linha da Raça.»

Se de nem um destes itens — d`um só deles que seja...! — posso fazer tabula rasa, tão-pouco me está consignada a faculdade de subtrair-me e/ou de cerrar a mente à base de licitação monárquica — ou para-monárquica, mais que não seja... — em que incorre, quanto a mim, a doutrinação de fundo do Presidente Salazar: o monarquismo difuso, e até infuso, quero dizer, que impregna tantos, tantos e tantos dos seus «Discursos e Notas Políticas».
É que é na qualidade de monárquico — e não na falta dessa qualidade — que eu fundo muito do meu salazarismo. Mais: é essa a base de sustentação e de suporte de todo o ideário que cedo abracei e ao qual tenciono morrer abraçado. A saber: sou um nacionalista de fundo monárquico — no fundo e também à superfície... —, com ascendência para o fascismo e para fenómenos, experiências e ideologias de ponta, da mesma família ou afins.
Diante disto, já sei que não poucos bôbos da nossa côrte democrática hão-de dar por paus e por pedras que alguém possa ser salazarista, sendo monárquico; e, sobretudo, que alguém possa ser monárquico, sendo fascista. Nessa base, dificilmente admitirão, por exemplo, que eu e outros que tais sejamos mesmo os monárquicos que somos, alegando que não passamos de uns fascistas nauseabundos...
Pois será como dizem... Convém, em todo o caso, precisar que o próprio fascismo é fenómeno de natureza retintamente monárquica, por boa e larga soma de razões, a começar numa, que é esta: o projecto fascista aponta, em cheio, apela em pleno, para a construção de um Estado acima das ordens e corpos sociais. Ora, como acentua António José de Brito — que, por sinal, também é monárquico, e monárquico propriamente dito —, «só um Poder» assim, «independente como o do Rei, consegue sobrepôr-se, duradoiramente, a todos os antagonismos societários».
Segue-se que o fascismo responde cabalmente a esse quesito.
Logo, e portanto, o princípio fascista não só não invalida nem contraria o monarquismo de ninguém, como até o reforça.
E o que dizer, já agora, da divisa de fundo do próprio nacional‑socialismo, Ein Volk, ein Reich, ein Führer: — não encerrará ela um enunciado eminentemente monárquico?
Quer-me a mim parecer que a resposta é só uma.
O facto, porém, de se ser monárquico, nem sempre nos obriga, necessariamente, a ser reisistas — quero eu dizer: realistas —, e muito menos depois que os reis passaram a agrupar-se, por norma, em quatro grandes (digo: em quatro pequenas) categorias:
Profissionais da pretensão ao Trono;
Profissionais da abdicação ao Trono;
Reis por inércia;
e Reis por contumácia.

Claro: o ideal, ideal, é que o princípio monárquico desemboque direitinho na solução real. Mas se o Rei não puder eventualmente ou então não souber, ou por ventura não quiser ou não merecer incarnar, inclusivamente, o princípio monárquico, o princípio monárquico não se rala nada com isso e incarna noutro, que não no Rei. Já aconteceu — e por mais do que uma vez...
Repito: o ideal é que o princípio monárquico coincida mesmo com a solução real. Mas pode a solução não passar pelo príncipe, sem prejuízo da plenitude do princípio. E haja em vista, a título de exemplo, o caso da Itália dos anos triunfais, onde o princípio monárquico, para todos os efeitos, ganhou expressão e incarnou em plenitude, na figura do Duce, e não propriamente na de Vítor Emanuel III, que se limitava a preencher — e mal... E malzinho... — o lado formalista da instituição real. Coisa de algum modo parecida ocorreria, aliás, por cá, no âmbito do próprio Estado Novo; isto, se nos lembrarmos que Oliveira Salazar corporizou, também ele, por mais de quarenta anos bem estirados, a figura lapidar de um «Presidente-Rei», — para aqui assim me valer do epíteto admirável que Fernando Pessoa colou, e bem, ao vulto mortuário de Sidónio Paes. Logo — e na linha do melhor Alfredo Pimenta —, monárquico, pois, e nacionalista eu me confesso, «com toda a honra, com todo o orgulho, — e sem nenhum proveito. (...) Nacionalismo totalitário? Sim. (...) Porque tudo pela Nação, nada contra a Nação. A Nação acima de tudo? Evidentemente. Acima de Deus e acima do Rei? A pergunta revela estupidez em quem a formule. Porque eu não concebo a Nação nem independente de Deus, nem independente do Rei. Sem Deus, é a Nação sem alma; sem Rei, é a Nação acéfala. Porque assim penso, sou nacionalista totalitário, e coloco a Nação acima de tudo — que é como quem diz: coloco acima de tudo, — Deus, a Pátria e o Rei.»[1]
Abreviando razões e resumindo-as de vez, acentuarei, enfim, que sou monárquico nacionalista por princípio e fascista por conclusão.
E era aqui, para já, que eu queria chegar.
***
Mas Salazar estava longe de ser fascista, dir-me-ão.
De acordo. Fascista não era; mas, que eu saiba, também não era anti‑fascista nenhum. Porque, se o fosse, nunca eu seria o salazarista que sou. (Que também sou.) Tão simples como isto...!
E, no entanto, «ainda há pouco, há poucochinho» se deu o caso de ter eu, mais uma vez, que desfazer, junto de gente afim (ou talvez não...)[2], alguns gratuitos preconceitos desse e d`outro género.
Imaginem que, ao entrar a bordo de uma revista[3] – por por sinal, de boa cepa: no melhor pano, como sabem, cai a nódoa... –, depressa concluí que tinha embarcado nela, até certo ponto, por engano, já que os respectivos timoneiros e tripulantes haviam afixado, no portal das traseiras da mesma, sob a forma de edital ou coisa que o valha..., uma espécie de duvidoso boletim de identidade política, repleto de avisos prévios que valiam por outros tantos pares de estalos.
Concretamente. Afirmavam não se identificarem «com as ditaduras, as tiranias, as censuras, os neuróticos, os salazaristas e as seitas adoradoras do Passado.» (Assim mesmo, sem tirar nem pôr.)
Um desconchavo pegado, como se deixa ver...!
Mas há que dizer que a tempo piaram, porquanto logo e sem demora lhes fiz saber que, ao invés do que acontece, pelos vistos, lá com eles, sou eu adepto fervoroso de todas as «ditaduras» do espírito e inimigo jurado de todas as «ditamoles»; e mais: declarei estar do lado de todas as boas «tiranias» (que as há, sempre houve e haverá), assim como de todas as «censuras» que não se me afigurem «censuráveis», e confessei não ter contra «os neuróticos» a mesma má-vontade da revista, desde que essa neurose, claro está, seja ditada por nobres razões. (E razões de fundo, razões de peso, para contrair umas riquíssimas e valentíssimas neuras, acho eu que não nos faltam hoje a todos nós). Fui-lhes, além disso, dizendo, em alto e bom som, que sou, sempre fui e hei-de ser salazarista. E é verdade: de salazarista para cima, sou tudo e mais alguma coisa; abaixo de salazarista é que não sou nada de nada. Ou se quiserem: nada de tudo o que aí me «servem» — e que, francamente, não me serve... Por último (e respondendo sempre à letra), quis que também se soubesse que — ainda e sempre às avessas da revista — não tenho eu nenhuma questão pessoal com «as seitas adoradoras do Passado». Antes pelo contrário. Questões — e, por sinal, bastante acesas — tenho-as tido, isso sim, com o presente, porque é fétido demais para o meu olfacto... e porque não dispõe de vista para o futuro.

EURO-ESPAÇO

A Europa sempre teve o condão de evocar, em nós, a imagem de uma rapariga moderna... muito antiga.
Porém, há quatro décadas bem puxadas que essa jovem e antiquíssima ragazza faz figura de dama de mau-porte, vivendo como tem vivido por conta de dois super-gigolos.
Um perverte-a e deprava-a, de porta-moedas em punho, para a pôr a render, a fundo perdido, como cocotte de luxo do bordel plutocrático[4]; o outro também a tem ao seu serviço, mas mais como rameira de desvão-de-escada, para salta-pocinhas do Kremlin atacados de cio proletário.
Quanto aos dois indecorosos profiteurs, há ainda a dizer que têm passado por ser rivais um do outro... quando, no fundo, são cúmplices.
Cremos que, enfim, chegou o momento de nós, europeus, os corrermos a ambos — e de todos nos erguermos «por nossa Dama», como legião de cavaleiros acudindo em defesa de dona injustamente injuriada[5].
É, de facto, preciso, imperioso e urgente que a Europa dos “chulos” deixe de andar a mendigar em Washington os sus fins-de-mês, e os seus maus princípios em Moscovo, e outra vez dê lugar a uma Europa de artistas, sábios, santos e soldados – puros e duros.
É mais necessário e premente do que nunca que toda esta Europa de gente sabida se transforme numa Europa de gente sabedora; que a Europa dos construtores de catedrais se desembarace dos arquitectos de capelinhas; que por sobre as ruínas desta Europa diletante se relancem as bases de uma Europa militante; que a Europa dos réus ceda o passo à dos reis (digamos assim...) E por aí adiante.
É que, tal como reza, num dos seus pontos cardiais, o recém-elaborado programa político de uma formação de combate que ultimamente ajudámos a criar e a estrutural, – já, para nós, é dado aceite – e bem assente – que a Europa que convém à ex chamada União Soviética não nos convém, como não nos convém a Europa que convém aos Estados-Unidos.
Soviéticos sempre nos recusámos a ser, bem entendido, mas lá para amer(d)icanos é que também não vamos.
Quer dizer: temos de libertar a Europa de todos os seus “libertadores”; mais: “temos de exumá-La dos escombros de uma vitória abjecta”[6]; ou seja: temos de varrer do seu espaço as telhas partidas de 45, que ainda hoje Lhe submergem pensamento e território.
Só então, o rosto, o corpo e o espírito da Europa recobrarão os mais insinuantes e esbeltos dos seus traços, por forma a novamente se ter d’Ela a imagem de uma rapariga moderna... muito antiga.


NAÇÃO E PATRIOSOPHIA

Porque amamos — sem conta, peso e medida — o espaço em que nascemos, somos nacionalistas, porque anelamos, sem limites de afecto, a terra paterna (das Vaterland), temos na Pátria, na imagem da Pátria, o nosso mais vivo norte magnético.
Acreditamos piamente que o apego ao talhão natal constitui, em si mesmo, um factor de progresso; e tão poderoso, que não hesitamos em ver nele a principal fonte de energia(s), a grande força-motriz e a geratriz, por excelência, do futuro.
O nacionalismo que advogamos — e em que fazemos, profissão de fé e de esperança — há-de entretanto determinar-se por desígnios eminentemente fundacionais, sempre que fôr caso disso (e é esse, agora mesmo, o nosso caso), sob pena de nada valer de nada.
À hora em que a nau Portugal crivadinha de rombos (e de roubos), voga aí à deriva sobre um mar de saliva altamente encapelado, e em mares de saliva submerge, está claro de ver que a única alternativa em aberto — que, desde agora, se oferece aos sobreviventes, que somos, do grande naufrágio que se deu com Portugal — consistirá em nos fundarmos, de novo, como Nação soberana, e em nos erigirmos, novamente, como Povo, às culminância do que nos está cometido empreender ainda.
Trata-se de principiarmos outra vez a ser coisa que se veja, e de recomeçar tudo, em «segunda edição» revista e melhorada; se necessário, a partir dos Hermínios (mas desde que estes não sejam martinhos, claro está...)
Responder à afundação da nacionalidade mediante uma segunda fundação da mesma; e tratar de replicar, com a violência purificadora própria dos fundadores de dinastias, à desalmada horda dos afundadores, — antes que tudo e todos soçobremos no seio «de uma História que nos esgotou, até nos tornar nisto que estamos sendo: os fantasmas de nós próprios; até chegarmos a ter esta espécie de existência metafísica — a existência de quem vive apenas porque já viveu».
Isento embora de veleidades imperialistas — sempre de rejeitar, visto que o imperialismo é a degenerescência materialista da ideia imperial, e o responsável-mor, e mais directo, pelos factores degenerativos que afectam o espaço geo-anatómico e histórico-espiritual do Todo europeu —, o nacionalismo que desde aqui avançamos é tudo o que há de menos tacanho, estreito ou conservador. Antes pretende ele estender-se, projectar-se, transmitir-se e propagar-se à Europa inteira, mãe, síntese e cadinho de todas as etnias de raíz que nos geraram e engendraram o Ser.
Assim, pois, digamos que somos «luso-nacionalistas», por princípio, e por (re)conhecimento de causa, e «euro-universalistas», por conclusão, e por (re)conhecimento de efeitos.

O ESTADO FUNDACIONAL-NACIONALISTA E O TRADICIONAL‑VANGUARDISMO QUE O ENFORMA

Reger-se-á o futuro Estado fundacional-nacionalista por uma «estética» e por uma «ética» tradicionais-revolucionárias, naturalmente libertas de servilismos internacionalistas, sempre comprometedores, e expurgadas de qualquer mito igualitarista, sempre utópico.
Longe de se restringir a um papel de aparelho meramente administrativo e colector de impostos, o Estado FN antes deverá impôr-se como pólo de convergência, inspiração e estruturação de todos os poderes e como expressão orgânica da vontade criadora do seu Povo. Missão: representar, defender, conduzir e projectar este, dentro de um espírito de permanência e, ao mesmo tempo, de vanguarda; em bases de constante fidelidade e também de contínuo desafio; segundo linhas de inovadora e incessante renovação.
Como tal, é imperioso que, no topo do Estado Fundacional-Nacionalista, pontifique um escol, de recorte tradicional-revolucionário e de espírito nacional-universalista, altamente congregador, — apto a transformar a colectividade numa aristocracia de almas fortes e de mentes esclarecidas e esclarecedoras; habilitado a fazer dela uma comunidade de luta e de destino em marcha imparável e sempre ascensional; capaz, enfim, de pôr de pé um país que não tenha de andar a mendigar os seus fins-de-mês em Washington, Londres ou Estrasburgo, e os seus (maus) princípios em Moscovo; em suma: um núcleo dirigente de inteligências e vontades, susceptível de se desmedir na produção de futuro para a aventura da Pátria na Europa e no Mundo.

A RAÇA COMO O CÔRO DAS RAÍZES

A Raça é, para nós, um dado fundacional. Diremos mesmo que é o dado fundacional por excelência, visto que n`Ela se consubstancia o sincretismo supremo do Solo e do Sangue.
Anterior, superior e posterior a tudo, e até a eles; a Raça é obra desses dois elementos: a obra-prima, e primordial, assim do Sangue como do Solo; o seu produto químico e também alquímico; e o resultado físico e metafísico da sua osmose, combustão simbiose e sublimação. O que significa que Solo e Sangue são agentes e também os suportes do espírito da Raça — do seu espírito de corpo, dizemos, já que é disso, e disso mesmo, que se trata.
A inteireza e integridade de qualquer território dependem, naturalmente, do grau de coesão da gente que o povoa. Mas essa coesão não se forja, claro, do pé para as mãos ou de um dia para o outro: pressupõe, sim, uma identidade de destino, que apenas por via racial se atinge, na medida em que tudo terá de assentar num pacto de sangue. Vale isto por dizer que tal coesão, que semelhante identidade, que uma tal homogeneidade, só a Raça as confere e garante, plenamente, ao ponto mesmo de poder afiançar-se que uma coisa está na razão directamente proporcional da pureza da outra (da pureza do corpo e espírito da Raça, entenda-se. Da sua pureza e da sua dureza, claro está; da sua fortaleza, desde logo; e da sua nobreza, evidentemente).
E, aqui, vem ao caso esclarecer o seguinte: a projecção europeia de Portugal nos trópicos, encarada de uma perspectiva imperial, foi sonho que abraçamos e empresa a que nos demos, de alma e coração. Para nós, a cruzada ultramarina sobrelevava, em grandeza, tudo o mais; e nada a ultrapassava, em importância.
E era tal e tamanho o apego a essa causa que reputávamos prioritária entre todas, e de tal ordem o grau de adesão a tão longo desígnio histórico, que de bom grado lhes sacrificámos, logo à partida, muito do nosso próprio pensamento racial; e conscientemente o fizemos.
Falando claro: — fomos integracionistas, a mais não o poder ser! E tal que me manteríamos ainda hoje, se o grande espaço lusíada não tivesse levado o tristíssimo destino que entretanto levou.
Dentro do regaço do Império, só a integração tinha sentido; desintegrado que foi o mesmo Império, já nada disso agora tem sentido algum...[7]
O mundo que o Português criou, anti-portugueses o arrasaram. E em face disso..., — que mais dizer se pode do nosso imenso projecto, senão que foi ele reduzido a dejecto, por obra e gracinha dos poltrões de Abril (e seus derivados...) e por obra e graçola do anti-general (ou anti-marechal) que os pariu a todos?!...
Certo é que no dia em que morreu tamanho sonho, muito de nós morreu também nesse dia...
Muito, também, de TODOS NÓS.
E, posto isto, retomemos, sem demora, o fio do discurso sobre o conceito de Raça, para d`aqui proclamarmos, em alto e bom som, que a Raça tem muito a ver com o génio (ou o carácter) de um Povo, mas mais ainda com o seu intrínseco sentido de casta, até porque é este — a fidelidade a este — que determina aqueles.
A Raça é o côro das raízes.
Sempre que os arcanos e arquétipos de um Povo perduram intactos no tempo e no espaço, então a Raça subsiste como tal e ascende à dignidade de ideal hereditário.
Afirmamos que a Raça é tudo o que impede que um Povo decaia, degenere e se degrade numa massa disforme, desgarrada e caótica.
As ofensas, transgressões, infracções e desvios às leis invariáveis da Raça pagam-se caro. A gente que o diga... Foi por aí que a Raça dita d`O Desejado morreu à mão dos indesejáveis; e não foi, também não foi senão por aí que a Raça dos construtores de catedrais caiu em poder dos arquitectos de capelinhas...

FOTOSÍNTESE ESTRUTURAL D’O HOMEM

Pela nossa parte, afirmamos a crença na desigualdade natural entre os homens.
Entendemos nós que cada homem constitui, por si mesmo, um universo próprio e solitário, de índole necessariamente diversa e de base necessariamente solidária. Mais: defendemos que todo o ser humano é portador de capacidades e atributos bem definidos, que o Estado tem o intérrito dever e a indeclinável obrigação de potenciar sem limite.
Se, para isso, há um limite plausível, será ele ditado ou determinado pelo interesse colectivo.

JUSTIÇA VERSUS JURISPRUDÊNCIA

Sob todas as suas formas, vertentes e modalidades, a Justiça procede, invariavelmente, de um natural sentido (que não sentimento) de equidade; e o exercício da Justiça, a sua administração e a sua prática decorrem, desde logo, de uma rigorosa aferição de méritos e deméritos, no tocante à avaliação — individual ou colectiva — de pessoas e bens.
Em qualquer caso, convém não confundir Justiça com Jurisprudência — que são coisas nem sempre coincidentes, como outrossim convirá não escamotear, e muito menos esquecer, que a Besta Jurídica — geralmente associada à Besta Clínica — tem sido o agente das maiores enormidades, e das piores iniquidades, registadas nos anais da História Humana — e, maioritariamente, perpretadas e cometidas contra o povo de Direita.
Em verdade, não poucas, não raras vezes tem sucedido que o contrário de um homem de Direita seja um homem de Direito.

O CAPITAL (ENQUANTO CAPITAL DE RISCO... E ENQUANTO CAPITAL ACAUTELADO)

À luz da conceituação económica que perfilhamos, não pode o capital ser entendido como matéria-prima ou fundo-de-maneio do capitalismo. Do nosso ponto de vista, o capital, é um meio instrumental destinado, isso sim, a servir e a alimentara combustão do trabalho (braçal, mental ou manual) — e não a escravizá-lo.
Portanto: capital, sim. Venha ele! Capitalismo, não. Dirigido, selvagem ou habilmente especulativo, o capitalismo não tem lugar no Estado Fundacional-Nacionalista; menos ainda, os profissionais e/ou parasitas do capitalismo à solta.
Quer dizer: tanto em princípio como em conclusão, negamo-nos a tolerar a institucionalização da usurocracia ou da cleptocracia como formas de vida organizada.

GUERRA E PAZES

Pombas atónitas a exorcizarem bombas atómicas (e bombons similares...) ou raminhos de oliveira agitados ao vento, com femininos frémitos, não garantem a paz — tão-pouco a preservam —, por mais que tal custe, e em muito que pese isso, aos fãs e adeptos da mariquice mental politicamente edificada. Criam, quando muito, uma ficção de paz que não é sequer precária: é paz impropriamente dita, na medida em que só aos seus inimigos aproveita.
O único agente gerador de uma paz consistente é a espada: «Eu vim trazer, não a paz, mas a espada»; «Paz sem espada é forja que os pulmões dos homens não sopraram».
Tal filosofia presidiu sempre ao estilo de vida de heróis, de santos e de mártires. Contudo, há que ter presente, e bem presente, que não se entra no heroísmo como se entra para a Escola Militar, da mesma maneira que não se alcança a santidade como se alcança ou se chega ao seminário.
Daí que o culto das virtudes outrora consideradas tipicamente militares — a honra, a coragem, a fidelidade à palavra dada, a determinação, o sangue-frio, a disciplina, a verticalidade dorsal, o amor do risco, o espírito de sacrifício e de superação, a heroicidade, em suma — não deva ser apanágio exclusivo das forças armadas; antes se deve ele comunicar e estender a todo o corpo civil da sociedade lusíada.
Para além de força armada que é, um verdadeiro e autêntico exército há-de, principalmente, ser fonte viva e espelho solar de força física e de força moral, e exemplo permanente de aprumo espinal, tão galvanizador e contagiante que a sua voltagem e o seu espírito naturalmente se transmitam a todas as fibras sociais da comunidade.

O FENÓMENO DESPORTIVO E A POLÍTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Para nós outros, é ponto assente que o desporto deverá ser estimulado e incrementado a todos os níveis, por todos os meios e em todas as suas modalidades.
A par do que significa e representa como escola onde se forja o culto da força, da personalidade e do carácter, há que reter, da prática desportiva, o que ela possui e encerra, ao mesmo tempo, de aristocrático e de popular, — com os vencidos, no final, a vitoriarem os vencedores, sem que se deixe de honrar, ainda assim, todo aquele que entrou em prova e em competição, pelo simples facto de o ter feito — e por mais nada.
Além de todo o mais, ocorre notar que desporto é domínio do qual não contam para nada os absurdos e abstrusos critérios niveladores: não há, no desporto, igualdade que valha, já que vence o melhor e que o pior perde.
Por outro lado, cabe ainda exaltar a união e unidade de espécie inerentes a todo o corpo de praticantes, e que fazem do mesmo uma comunidade natural de excepção, amassada no suor, sublimada no sangue e fundada no esforço, na superação e no permanente sentido e espírito de ultrapassagem interior.
Assim, é também por meio da intensificação da educação física e da actividade desportiva que se chega à formação de uma sociedade de almas sãs em corpos sãos, enérgica, hierarquizada, exercitada, combativa, saudável, sadia, salutar.
Um moço de direita, um homem de direita, tal como os eu entendo serão sempre o oposto de um daqueles enfadonhos meninos às direitas que me eram propostos como paradigmas, e dados e apontado como exemplos a seguir, e a imitar, nos idos primo-escolares e em plena adolescência, por parte da minha «entourage» doméstica.
-«Mas que porcaria de menino!...», exclamava, invariavelmente, o catraio que eu era, todas as vezes que cessava o panegírico do menino às direitas «do dia», e o respectivo estendal de prendas, o correspondente e interminável rol de virtudes e predicados, que, por junto e atacado, faziam do dito cujo e modelar protótipo de menino-padrão, de menino ideal, um daqueles seres que nunca saem de casa sem razão, nem chegam sem ela ao local de destino; que jamais tropeçam ou caem no caminho; que nunca por nunca se engelham ou amarrotam e adregam. Chegar sempre a toda a parte e a horas certas de assinar o ponto com uma bela caligrafia; que são incapazes de matar uma mosca, por só serem capazes — calculo eu — de matar duas: uma de cada vez, e ambas às escondidas, sem ninguém dar conta, etc.,... Estão a ver o género, não estão?!...
Na minha perspectiva, faltava àquele menino «às direitas» — àquela porcaria de menino... —, para além da capacidade de vibração natural, uma componente cardial para ser de direita: a rebeldia, o inconformismo, a autenticidade. (Uma rebeldia, bem entendido, que todavia não contenda nem colida — isso, não — com a fidelidade.).
Confrontados que sejam ou se vejam com o nó de tão bicudo problema, depressa alegarão alguns dos não-defuntos e ausentes que dele tomem conhecimento que o fundo da questão, a questão de fundo, o busílis da mesma, não estarão tanto — nem sobretudo — na insípida, inodora e incolor sensaboria que se desprende do badalado menino às direitas, como no facto de ser eu, isso sim, portador — ou de ser eu detentor — de um quadro mental e temperamental de extrema-direita — e aí é que baterá o ponto!
Páro, olho, escuto, registo — e não córo. Não há que corar de vergonha por se ser considerado da extrema-direita. Ser considerado da extrema-direita não é desconsideração nenhuma. Pelo contrário: deve ser tomado como uma prova de consideração, ainda mesmo quando nos seja ela tributada por algum — ou alguns — desses milhentos milhares de agentes de imbecilização ao domicílio que para aí se multiplicam à mesma velocidade com que os coelhos e os cangurus se reproduzem na Austrália: estou, naturalmente, a referir-me à prolífera praga dos rádio ou tele-locutores cá do sítio, aos múltiplos entertainers, gralhas, papagaios, catatuas e araras dos chamados talk-shows, a todos os mal-parados e mal-paridos periodistas que por aí fungam e circulam, de intriga portátil e gravador a tiracolo, quando não de intriga a tiracolo e gravador portátil — gentuça que não sabe nada de nada, ou por outra: gente que não sabe nada de tudo, e que, precisamente por isso mesmo, disfruta de uma situação de futuro garantido no grotesco parque de diversões da parvoíce democrática.

PORTUGAL OU A ATRACÇÃO DOS EXTREMOS. DO EXTREMO OCIDENTAL DA EUROPA AO EXTREMO-ORIENTE, PASSANDO PELA EXTREMA-DIREITA

E depois, convenhamos que ser acusado de extremista não é coisa que fique ou assente mal a um Português digno desse nome e que se preze de o ser, pois se há atributo que, desde sempre, nos concerne e tipifica em tudo, é justamente a vocação dos extremos, tanto assim no plano da História como no da própria envolvente geográfica. Ou vamos negar que nos achamos territorialmente situados e inscritos no «extremo» ocidental da Europa, com receio de não parecermos suficientemente moderados?!... E historicamente falando: — é ou não é igualmente indesmentível que a vocação dos antípodas, o apelo e a atracção dos extremos — do «Extremo-Oriente», por exemplo, que incessante e persistentemente demandámos, e aonde fomos os primeiros ou dos primeiros a arribar —, constitui uma das nossas maiores e distintivas marcas de referência, como Povo?... Ou vamos negar que assim seja, só para não nos terem na conta de uns extremistas «do caraças»?!...
Transposto que seja o arame farpado desta montureira de objecções de alho chôcho, já sei, de antemão, o que me espera ao virar da esquina: hão-de acoimar-me, acto contínuo, de nazi. (Tão certo como dois e dois não serem cinco!...)
Como não sou nada impressionável, nem especialmente sensível a agressões psicológicas, sejam elas exercidinhas ad hoc ou ministradas por via verbal, «armo-me» de uma dose de paciência literalmente evangélica e passo a explicar caridosamente ao meu fraco e modesto antagonista que não só não há mal de maior em ser apodado de «nazi», como até é muito bom sinal, visto que «nazi» vem a ser a abreviatura inicial da palavra que, em alemão, significa «nacional» (nazional), ou da que, na mesma língua, quer dizer «nacionalista» (nazionalistisch). Assim sendo, aceito lindamente — e reclamo, reivindico mesmo, para mim — esse nobilitante epíteto de «nazi», desde logo como sinónimo de «nacionalista», que sou, sim, que sou, de facto, e na medida em que todo e qualquer «nacionalista» tem de ser, à letra, e por definição, e necessariamente, pois, um «nazi», sendo a inversa igualmente verdadeira, do ponto em que todo o «nazi» não pode, forçosamente, deixar de um «nacionalista», como aí fica por demais demonstrado, creio eu, depois de por mim, brandidas, para o efeito, razões tanto mais decisivas quanto é certo serem elas do foro propriamente etimológico.
Posto isto, não se farão esperar as chocantes cenas do capítulo subsequente, dado que o meu afável e inefável contraditor, não contente com o sermão e missa cantada que lhe aviei, voltará seguramente à carga, para me lançar, então, em rosto — e me atirar à cara — a versão corrente, e mais consagrada, da «holotreta», e mais toda a electrodoméstica lenga-lenga dos fornos crematórios, de jeito a responsabilizar-me, pessoalmente, pelos mesmos. E lá terei eu de comunicar à crédula criatura que os únicos fornos crematórios que «funcionaram», que comprovadamente «laboraram» — e esses, sim, em pleno —, no quadro da última guerra, não foram accionados, que eu saiba, por mão nazi, por mão alemã: foram antes activados pela ternurenta manápula da Besta Democrática. Mais propriamente: pela sapuda mãozinha amer(d)icana.
Os fornos crematórios em epítome — esclareça-se — vieram a ser nada mais nada menos do que as vistosas bombas atómicas de Hiroshima e Nagasaki, esses bombons caídos do céu aos trambolhões, essas «bombocas» cintilantemente recheadas... Ou não?...
...E, sem embargo, criminosos de guerra de primeiríssimo plano, como esses, réus de um delito perfeitamente incomum no transcurso de toda a História Humana.
Contra isto, valha-nos — ainda e sempre — o espírito incurso na Revolução de Maio de 1926, que em permanência convocamos. Impõe-se e importa, sobretudo, que os pensamentos, palavras e obras, e os preceitos de validade permanente, contidos na doutrina e na acção do Estado Novo e d`Aqueles — Salazar e António Ferro, sobretudo — que foram os seus mastros reais e as suas grandes figuras de proa, nesta hora de Damasco nos assistam, estimulem e inspirem.
Quis o acaso (e goza o acaso de boa ou má fama de fazer quase sempre as coisas bem feitas...), quis o acaso, ou Deus por ele, que esteja a dar eu a última demão a estas mal ataviadas regras, às portas de mais um 28 de Maio (e de um 28 de Maio a menos...)
Não há decerto efeméride que os nossos inimigos mais gostassem de ter tornado efémera do que esta que, hoje e aqui, se manifesta.
Eu sei, e todos, por outro lado, sabemos que não falta aí muito quem nos tome por espécimes raros, conquanto ainda assim subsistentes, de toda uma espécie humana da pior espécie, que já agora se estimaria em vias de extinção, — ou não continuem sendo mais do que as mães os que se propõem banir-nos da face da Terra, por extermínio radical, antes que a gente prolifere e vá a mais.
Só que, miraculosamente, aconteceu que o numerus clausus dos nosso «semelhantes», longe de encolher, desatou subitamente a dilatar-se — e, a cada dia que passa, mais se multiplica e acrescenta, por essa Europa toda a cabo... E até por cá, imagine-se. Até por cá. O que só vem comprovar a fortaleza das ideias que nos movem, a validade dos exemplos que nos guiam, a perenidade indestrutível dos princípios que anelamos — princípios que todos temos que fazer chegar ao fim: ao fim p`ra que nasceram!
Da Europa de antes de ontem, já assim se vai chegando à de depois de amanhã. E já agora volta a haver no seu regaço razões de sobra para acreditar no «poder convocatório» da chamada «extrema-direita», já que a mesma está, de novo, em movimento, tende mesmo a pôr-se em marcha acelerada, e promete ganhar o fôlego de outros dias, conhecer a maré-alta de outras horas, segundo a curva de um crescendo ascensional que, como digo, já aí se desenha agora, a olhos vistos, por campos de Europa acima.
Em Portugal, também se nota, entretanto, algum bulício, quero dizer: uma onda de remoçada militância, uma real palpitação; um surto, enfim, de inusitada vitalidade. O que não deixa de ser, aliás, sumamente reconfortante para todos aqueles (e não serão muitos...) que têm consumido o melhor da sua vida — da sua vida mental, temperamental e sentimental, da sua vida afectiva e, até, inclusive, da sua vida orgânica — na defesa e propagação de tão subidos ideários.
É claro que, no meio disto tudo, há-de aí rebentar não tarda, a Cassandra-mor do grémio geral lusitano, a afiançar que a extrema-direita não tem futuro, de qualquer espécie, no Portugal vigente. Cabe-nos opôr a tal um categórico desmentido, rapazes!
Por mim, aviarei, sem demora a resposta da ordem, fazendo ver, ao pessimistazinho de serviço, que a extrema-direita, se fôr caso disso, pode dar-se ao luxo asiático de não ter futuro: — basta-lhe ter passado.
E é verdade. Essa magra consolação lhe resta.
Mas dessa, ao menos, já ninguém nos priva...
Em qualquer das eventualidades, o que é facto é que este fenómeno de natalidade neo-fascista e/ou nacional-socialista, neo-salazarista e/ou neo-monárquica, a que se assiste, já agora está a dar que pensar, e a dar que falar, e creio mesmo que a dar que fazer aos abrileiros de turno de todo o mundo, e aos de cá. Aliás, já é uso e costume estafado isto de entrar a gente em estado de graça e a ver a megera democrática a ficar logo em estado de garça, para passar a estado de choque, e cair até em estado de coma...
Para já, a estupefacção reina, em grande, à nossa volta; é quase geral. E compreende-se porquê: depois de ovante triunfo das merdiocracias formato Abril, obtido, como se sabe, à custa da prudência que não arrisca e da jurisprudência que petisca; e uma vez assegurada e consolidada a vitória através de carnificinas em larga escala, como a de Dresden, de sangueiras de açougue, como as que o Dongo — e não só... — presenciou; das forcas patibulares de Nuremberga, dos fornos crematórios de Hiroshima e Nagasaki e das descolonizações exemplares..., — lá estava fora de todas as previsões, ainda mesmo das mais ousadas, o advento deste resíduo (ou deste rescaldo) de «homens vencidos e causas vencidas», que nós constituímos.
De facto, à primeira vista, só um certo antifascismo de profissão se perfilava coisa com futuro e com pernas para andar, e parecia de todo mal talhado para adornar o perímetro, maneirinho, do cinto de castidade democrática que cinge, ainda agora, os atafais do mundo. À míngua de melhores alternativas, esse se afigurava como o único caminho lucrativo a seguir — por isso mesmo, fadado para vingar —, ao contrário do que se fazia voz corrente quanto à defesa de um pensamento de sinal contrário, que era caso quase omisso e atitude, desde logo e de antemão considerada, por consenso universal, como sinónimo de impopularidade suicida no campo de batalha das ideias.
Porém, muito se engana quem cuida! Nós, em face disso, nem nos intimidámos nem capitulámos, ciente embora dos contratempos que iria acarretar a opção pelo lado mais ingrato. Mas como nunca tivemos o menor sentido das conveniências — sobretudo, das nossas —, tudo, afinal, se tornar fácil. E foi, justamente, por dever para com as ideias, e como viva expressão da fidelidade a tributar a exemplos e princípios, que, apesar de profundidade, sempre acabámos por emergir de tão densa maldição e por aflorar à tona do silêncio gritante — do silêncio estridente — criado à nossa volta.
Desde que ressurgimos, é certo, não passa um só dia, sequer, que não tenhamos de atender os anónimos telefonemas da praxe: telefonemas muito inquiridores, e que dizem que acontecem e que esfolam e que matam. (— Pois que esfolem, pois que matem. Matem, mas não chateiem!) E assim ou assado, aqui estamos — de volta, e até reforçados, e retemperados como nunca, para o que der e vier. E, sobretudo, empenhados a fundo — seriamente empenhados — em talhar na noite uma estrada para a luz, em rasgar no silêncio um caminho para a voz.
Em Portugal, não se vê que exista, aqui e agora, uma oposição credível ao Sistema. (Eu, pelo menos, não a enxergo, a não ser nas marés, cada vez mais vivas, da abstenção).
O que resulta nítido, isso sim, é que, dentro do Sistema, há forças (ou há fraquezas) que fazem de governo(?) e forças (ou fraquezas) que fingem de oposição. No fundo, (des)governo e opositores estão todos no poder, a verdade é essa; e o resto é farsa (uma farsa pegada). Mais: é da sabença geral das nações que cada regime gera e possui a oposição que pode, ou a oposição que merece. O nosso, pelos vistos, não só não merece como não pode engendrar e produzir mais nem melhor oposição que a que tem. Por isso se dá por tão satisfeitinho com uma oposição meramente formal, em tudo fictícia, e que dir-se-ia tão-só existir para papalvo ver, comer... e calar.
Conclusão a tirar: até por simples exclusão de partes (gagas e gágás), a chamada — a mal chamada — «extrema-direita» é, hoje por hoje, a única formação ideológica portuguesa a poder protagonizar o papel de oposição. De efectiva e verdadeira oposição nacional. Melhor dizendo: assiste à sobredita «extrema-direita» o caridoso, misericordioso, profiláctico e indeclinável dever de ser constituir na única oposição frontal ao Sistema. Lá gente para isso, tem ela. (Para isso — e para muito mais...) Faltará reunir apenas certas condições. Mas, essas, criam-se. De resto, os próprios «proprietários» do Sistema se encarregam de as criar, poupando metade do trabalhinho à gente. Nisso, ao menos, são eles uns ases — e uns ases de trunfo!
Já o bom do nosso Nimier deixou dito e escrito que passar descomposturas ao fascismo é a grande especialidade dos liberais e seus parentes: «Adoram esse género de exercício. Para se lhe dedicarem à vontade, aguardam impacientemente um regime de força. Aliás, nunca precisam de esperar muito; basta-lhes governar uns anitos para o tornarem necessário».
E é assim, justamente, que eles nos criam as tais condições...
De caminho, porém, atendemos em nós um nadinha que seja, e convenhamos que também a formação de base dos nacionalistas revolucionários portugueses deixa muito, mesmo muito, a desejar, na medida em que se apresenta ferida de grave incompletude.
Na verdade, longe de primarem por uma inteireza estrutural inatacável, os nossos activistas, de um modo geral, pecam por defeito. Concretamente: os militantes nacionais-revolucionários, em Portugal, das duas uma: ou têm toda a escola nacional — e pouca, ou nenhuma, escola revolucionária (e é esse, em parte, o meu próprio caso, confesso), ou, então, possuem, pelo contrário, uma grande preparação revolucionária, mas pouca, ou nenhuma, dimensão nacional e nacionalista — e, logo por azar, é esse o caso mais contemplado. Aqui está, enfim, uma pecha de raiz que cumpre, pois, conjurar sem demora, sob pena de a luta nacionalista, entre nós, se saldar num fracasso permanente.
Posto isto, não quero, já agora, desperdiçar mais esta ocasião — que é também uma ocasião a menos... — para deixar de adiantar alguma coisa sobre os trabalhos e os dias que aí vêm. E doa a quem doer, regozije a quem regozijar, indeferível me parece, desde já, a necessidade de reafirmar propósitos, vincar directrizes, avivar finalidades, com vista ao futuro próximo — e até, que seja, um pouco mais remoto — desde nosso esquadrão de inteligências e vontades.
Na dianteira dos objectivos que nos movem, coloco o de nos situarmos na primeira linha de um combate mental e verbal que não há-de ter folga nem descanso, tendendo para a sintonia absoluta das formações portuguesas de fermento nacionalista numa Frente unificada. Mas uma Frente que se caracterize pela unidade e não pela mistura. Uma Frente de estilo inconfrontável, que em tudo se afirme na base do contraste — e não na base de semelhanças com o que há. Uma Frente, em suma, activa, animada, vigilante — tradicionalista do ponto de vista histórico-político, aristocrática do ponto de vista espiritual, cosmopolita do ponto de vista estético, justicialista do ponto de vista social, revolucionária do ponto de vista ontológico, vanguardista do ponto de vista cultural.
Enfim, uma Frente em que o esforço pela consolidação das estruturas de combate ao nível de pensamentos, palavras e obras, ressalte logo à vista, de forma chamejante e chamativa, original e, como tal, eficaz.
Para tanto, será preciso que o pulso, por exemplo, de quem escreva, rape sempre virilmente da caneta e a branda à mesma cadência das armas de combate, impondo-se que as próprias ideias funcionem, também elas, como armas cerebrais, que em verdade são.
São essas, de resto, as nossas armas predilectas. E as mais mortíferas, também. Sem desprimor para as outras, claro está..., que quando bem calha também fazem jeito e são sempre bem-vindas.
Sim, rapazes. A missão de uma caneta militante consiste em promover a sublevação dos espíritos, para que esta conduza, se necessário fôr, à insurreição dos corpos.
Digamos, assim, que, entre a pena e a espada, tem de haver uma relação de causa a efeito.
Foi a caneta de Alfredo Pimenta que accionou a espada vitoriosa de Gomes da Costa.
Não tivesse brandido Pimenta a sua caneta persuasora e polémica e talvez a espada de Gomes da Costa ainda agora estivesse por desembainhar.
A função de uma caneta militante é puxar pela espada.
Com uma ou com a outra, cumpre-se proclamar, sobre as ruínas do Presente, e como o endereço para o futuro, o regresso a certas ordens europeias do passado. Do passado recente.
Impropérios sobre impropérios, é mais que certo, sobre nós hão-de chover. Mas há que não renunciar a ser inteligente. E há, também e sobretudo, que não perder a embalagem já agora adquirida.
***
Há pessoas que não sabem falar — e que não sabem sequer viver — senão no plural; outras há que só no singular sabem viver, que só no singular sabem falar.
Pertencendo embora ao número das segundas, de bom grado aqui renuncio, por agora, à primeira pessoa do singular, trocando-a desta vez pela primeira do plural, — já que, tratando-se de ponderar sobre o que foi a Revolução do 28 de Maio (e até sobre o que ela não chegou a ser...), 69 anos depois da sua eclosão, um direito e um dever me assistem: os de por aqui falar em nome de uma geração que foi a última a servir activamente o Estado Novo em vida deste, e uma das poucas que por ele se bateram depois disso — pelas armas, pelas artes, e por pensamentos, palavras e obras, literárias e nem só...
A geração decimal de 60 — pois que é dessa mesmo, ou de uma parte dela, que se trata — serviu, de facto, a Revolução Nacional, defendendo-a, primeiro, da subversão universitária e da subversão cultural; defendendo-a, em seguida, da subversão catolaica e pseudo-intelectual e da subversão armada; e, por fim, defendendo o regime do próprio regime, já na agonia do mesmo, isto é: quando a Comissão Liquidatária do Estado Novo — e que viria a ser a Comissão Instaladora do flagelo de Abril — já a seu bel-prazer operava, no alto do poder e nas suas alfurjas, por tudo quanto era sítio, através de grande parte do pessoal menor da «marcelice» e de boa parte do seu pessoal maiorzinho...
(Portugal, por essa época, ainda era da família, mas já dele se não falava senão em voz baixa. As pessoas tinham por ele essa deferência desprezível que nos merece um parente de idade, por cuja herança se esperou tempo demais. Contava-se tostão a tostão, o que ele poderia deixar, da honra ao resto. Um dia, vem a saber-se que ele tudo delapidara já e que à sua ruína não faltava nada, nada — nem mesmo a vergonha. A Pátria desonrava as guerras que travava sem ter a hombridade de as fazer até ao fim e já então mendigava em Washington e alhures os seus fins de mês. A desonra, como uma grande palavra desajeitada, introduzia-nos, bombásticamente, na vida pública).
Depois... Bom: depois continuámos, ainda e sempre, e na mesma, a defender a memória e bom nome do regime, não já na medida do possível, mas sim na medida do impossível, quando a traição — traição militar, traição diplomática e também política — aos territórios de além-mar-em-África-e-na-Oceania se consumou aquém-do-mar e quando aqui no que era, até então, o cais do império português na Europa — se destravaram contra nós ventos e marés de desatada perseguição, que nos encaminharam, a uns para a prisão; a outros para o exílio e para a clandestinidade; e a outros, ainda, para simples formas de resistência passiva, para formas altivas de intransigência interior.
E, uma vez depois de reagrupados, ainda forças nos soçobraram para montarmos guarda nas colunas corajosas de um semanário de combate suicida — como A RUA —, de lá descendo, de quando em vez, ao meio da rua, em ordem a tirar o medo ao país, que então tiritava, valentemente, de coragem, de norte a sul.
Foi, de resto, aí — n`«o único jornal da direita que não era» (ou que talvez fosse...) «do centro» —, que desafiadoramente se comemorou, pela primeira vez depois de Abril, o 28 de Maio (promovido, entretanto, a valor proibido) e que se rendeu homenagem àquele, com quem nós, portugueses, «subimos esforçadamente a encosta duma nova restauração», — para, do alto dela, afinal, nos despenharmos de novo (e até certo ponto, de vez): SALAZAR.
Só à simples menção do seu nome, um vivo frémito de emoção nos assalta, pois que, graças a ele — e sobretudo a ele! — é que nós já hoje nos podemos gabar — «com toda a honra, com todo o orgulho e sem nenhum proveito» — de ter pertencido à era do combate e não à do debate; à idade do duelo e não à do diálogo; à geração da guerra e não à do cessar-fogo.
(Por esta última, nutrimos, aliás um desdém desmedido, um aristocrático desprezo, uma indiferença senhorial, que já não nos damos ao cuidado sequer de disfarçar).
Desgraçadamente, quis o acaso que não nos seja concedido comemorar este Sexagésimo Nono Aniversário do advento do Estado Novo dentro das coordenadas circunstanciais a que o mesmo faz jus. Justo seria, com efeito, que tão memorável efeméride, a pudéssemos nós assinalar dentro de parâmetros históricos diametralmente opostos aos da hora presente. De facto, a única situação consentânea com um quadro evocativo da acção, altamente empreendedora, que o antigo regime protagonizou em mais de quatro décadas nobilitantes, seria o esplendor — e nunca o fim: o fim histórico — de Portugal. Mas o que se há-de fazer?...
Esta terra, pelos vistos, antes quer perder-se com gente sabida, do que salvar-se com base em provas dadas por gente sabedora?!...
De modo que chegámos ao que chegámos e aqui estamos no lindo estado de indigência em que nos achamos.
Já agora são menos do que poucos os que não consentem, sem protesto, que quase todos os dias rematados traidores recuperem a pele de honrados cidadãos. Por nós (e digamo-lo, já de caminho) nunca para esses olhamos — que não tenhamos a sensação de estar a sujar a vista; e basta pronunciar-lhes o nome — para termos logo a sensação de estar a sujar a voz; e se calha de lhes ouvirmos a voz — lá temos nós a sensação de estarmos a sujar os tímpanos.
... E assim por diante.
É natural. Somos gente dotada de sentidos bastante apurados e realmente exigentes.
Daí que tudo aquilo que por cá nos servem não nos sirva.
Estávamos nós habituados a «viver habitualmente» — e estávamos, afinal, muito mal habituados, a verdade é essa. E nisso, vão direitinhas para o Estado Novo (honra lhe seja!) todas as culpas e mais algumas. Quer pela alta qualidade, quer ainda pela infinidade dos serviços que à Nação prestou — e esses, sim: de utilidade pública —, ao largo de um período histórico de longo curso, o antigo regime teve o condão de nos dotar de muito má boca... Pena foi que o mesmo regime não se tivesse sabido dotar de órgãos de duração, efectivos e eficazes.
Resultado: a sequência foi desagradável. De um dia para o outro, nós não éramos mais o Cristo das nações, mas um povo ocupado, que choramingava baba e ranho sobre os seus infortúnios. É sempre aborrecido, muito penalizador, imensamente humilhante, termo-nos considerado o umbigo do mundo e ver, às tantas, que não somos senão as suas glândulas lacrimais.
Em 1974, quando foi a vez de russos e americanos se substituírem aos portugueses na «libertação» — digo: na confiscação e presúria — do solo lusíada, a atmosfera que se criou foi imediatamente a de um exame. O corpo docente do reviralho e todos os seus sociais oportunistas (que já, à data, eram mais do que as mães) pegaram e meteram o país numa sala de aulas. Foi então que cada qual se viu obrigado a recitar, de cor e salteado, a sua liçãozinha de terrorismo. Finda a guerra (e bem mal e porcamente findou ela!...), uma grande aragem de boa vontade percorreu de lés-a-lés o território. Nunca nós nos injuriámos tão alegremente uns aos outros; e jamais nos amámos tanto entre nós, como nessas horas.
A burguesia adorava os turras, com uma sensível predilecção pelos terroristas mortos. Os comunistas, esses, andavam perdidinhos de amor pelo exército, em particular, e pelas forças armadas em geral; aliás, eram quase todos Capitães, Majores, Coronéis.
Escusado será dizer que essas jornadas tristemente memoráveis forneceram um contingente de dissabores e de cadáveres bastante apreciável. No meio disso, éra-nos recordado, a cada passo, que lutávamos pelo Direito — palavra de maiúscula aos domingos e feriados. Mais. Éra-nos constantemente repetido que as chacinas são óptimas para a saúde, que ajudam imenso a activar a circulação do sangue dentro de um país e que aos assassinos, e aos peritos em falsos testemunhos que porventura sobrevivessem (e todos se encontram aí de boa saúde...), estava de antemão reservada uma situação de futuro garantido.
Quanto ao sistema político entretanto implantado, apresentava e apresenta, ainda agora, vantagens bastante consideráveis, uma vez que põe os bárbaros num lado, os neutros noutro e Portugal em parte nenhuma.
Abreviando e concluindo: é ponto assente e um dado adquirido que o regime saído da Revolução de Maio não soube criar órgãos de duração. De facto, não. E o mal foi esse. Nem tudo, porém, estará perdido se redutos aguerridos como o nosso tomarem para si esse papel e se dispuserem a reanimar, «rapidamente e em força», a ordem tradicional-revolucionária, incursa no espírito inicial do regime, e ao depois postergada...
Por outras palavras: nada, ou nem tudo, estará irreparavelmente comprometido, se todos aqueles que integram os nossos movimentos se empenharem, a fundo, na produção de futuro para o destino da Revolução Nacional. — Como?
— Primeiro que tudo, subtraindo a sobredita Revolução à situação de orfandade em que A deixou o desaparecimento do seus chefes naturais e carismáticos (Salazar e António Ferro, mais propriamente). E, depois, refazendo, de alto a baixo, aquilo que de menos imperfeito começou a ser feito há 72 anos — e a ser desfeito há 24.
Nós, é certo que pouco ou nada pudemos contra a tratantada de Abril; mas a tratantada de Abril também nada pôde nem poderá contra nós. Essa magra consolação nos resta...
Enganam-se os que dizem, pois, que a Revolução Nacional dorme em paz.
Não dorme tal. Não. Ainda mexe. Mais: prepara-se para palpitar de novo, e de vez, no ânimo, no corpo e no espírito da generalidade da gente moça.
Quer isto dizer que a Revolução Nacional não fica assim: não vai ficar onde a deixaram os que a não souberam fazer até ao fim nem merecer.
O espírito de ingratidão não pode prevalecer sobre o espírito de fidelidade.
Logo, a Revolução Nacional não acabou. A Revolução Nacional continua. Vai continuar. Melhor dizendo: vai começar. Dentro de momentos...
E então, bem poderá ser que, graças a Ela, o coração exausto deste velho país recomece, enfim, a bater como dantes.

PALAVRAS FINAIS DE EXORTAÇÃO DIRIGIDAS À MOCIDADE LUSÍADA
Neste quase findar de século e de milénio, seria azado e bonito que pudéssemos dar um valente impulso às nossas ideias, no sentido de as levarmos lá onde todos nós as queremos ver e onde queremos que estejam; no poder.
Vamos a isso, rapazes.
Querendo e crendo nós — pois, se querer é poder, crer também o é; mais: crer é saber — havemos de vencer.
Tal como no dia 1.º de Dezembro de 1640, havemos de vencer!
Tal como há setenta e mais dois anos, havemos de vencer!
Para honra e orgulho e glória dos nossos, e proveito da Europa, e a bem de Portugal, e porque somos, de facto, os melhores, — havemos de vencer.
Eu já cá não estarei para ver. (A resistência, como sabem, tem limites: a resistência física e orgânica, bem entendido; não a outra — que, essa, não tem limites.) Em qualquer caso, eu já cá não estarei para assistir, pessoalmente, à colheita do triunfo. Mas vocês, rapazes, se encarregarão disso, e bem. E que Deus vos salve e vos defenda, como eu vos tenho defendido sempre!

COLUNA VERTEBRAL DO TEXTO
— Para uma tipificação do animal de Direita. Caracterização e conceituação gerais assim d’uma que d’outro.
— A sui generis Direita a que o autor pertence.
— Direita propriamente dita e direita impropriamente dita.
— Da Direita que convém à esquerda e daquela que à esquerda não convém de todo.
— Esquerda, Direita... e meia-direita.
— De como começar por ter uma imagem de tudo é muitíssimo mais avisado e francamente preferível a de tudo começar por não ter se não uma ideia – uma fraca ideia.
— A direita enquanto noção anterior e superior a todas ao outras.
— Para uma geneanologia cultural de base nacional-universalista.
— Os 10 Pontos Cardiais da Acção fundacional-nacionalista.
— Princípio Monárquico e Solução Real.
— Euro-Espaço.
— Nação e Patriosophia.
— O Estado fundacional-nacionalista e o tradicional-vanguardismo que O enforma.
— A Raça como o Côro das Raízes.
— Fotosíntese estrutural d’O Homem.
— Justiça versus jurisprudência.
— O Capital (enquanto capital de risco... e enquanto capital acautelado).
— Guerra e Pazes.
— O fenómeno desportivo e a política de educação física.
— Portugal ou a atracção dos extremos. Do extremo ocidental da Europa ao Extremo-Oriente, passando pela extrema-direita.
— Palavras finais de exortação dirigidas à Mocidade Lusíada.
— Desfolhando o Margarido...

Notas:
[1] «Três Verdades Vencidas — Deus, Pátria, Rei», por Alfredo Pimenta.
[2] A gente da «Jovem Revolução»: revista laica, como o marido da actriz, e quem sabe se «republicana, socialista e de esquerda», como o dito boião...
[3] O n.º 4 de «Jovem Revolução».
[4] Não sei, mesmo, se como pêga de porta aberta...
[5] Não foi outro o espírito que, de resto, me assistiu, no dia e na hora em que eu próprio tratei, também, pessoalmente, de increpar os Desalmados, — bradando-lhes:
Ó idólatras
dos dólares
energúmenos
dos números:
— Guardai as vossas
esmolas,
para a Europa
dos chulos...
... E ficai-vos com
os trocos;
ou cambiai-vos
em rublos!...
[6] São palavrinhas de Alfredo Pimenta.
[7] A este mesmo sujeito, travou o signatário das mal-notas normas que precedem uma polémica-relâmpago com Alfredo Margarido, em que, sépala a sépala, pétala atrás de pétala, se deu ele ao trabalho, e ao prazer, de ir

DESFOLHANDO O MARGARIDO...
Margarido é um nome lindo — mas só no feminino. No masculino é um absurdo.
Pode mesmo dizer-se que nunca um apelido se pareceu tanto com um nome próprio e que nunca um nome (im)próprio se pareceu tanto com uma alcunha.
Mas o nome é o menos. O pior é o resto.
Encurtando caminho e abreviando razões: Alfredo Margarido tomou-se de amores com um dos meus textículos — melhor dizendo: por um «Elogio da Raça» proposto a destino nas colunas de Acção — e usou e abusou dele em Público (8), sem conta, peso e medida, como um forcené; e logo no cabeçalho. «Extrema-Direita liquida luso-tropicalismo» — s`écrie Margarido, encantado da vida, chamando a título tão ilícita ilação.
Ora, é bom que quem ainda agora não saiba, fique mesmo a saber que a gente aqui, escreve sempre e só escreve o que nos passa pela cabeça e não o que passa pelos pés do Margarido... Pois não sabe muito bem o Margarido que quem liquidou o luso-tropicalismo — e pretendeu liquidar, inclusivamente, a extrema-direita — foram a esquerda, a meia-esquerda e a extrema-esquerda que temos o infortúnio de aí ter?!... Não estaria o Margarido a dormir sentado, quando administrou a Público, e ao «Público», tamanha protérvia?... O Margarido é parvo? Ou faz-se?... Ou ele é parvo e, com receio de o não parecer suficientemente — receio, de resto, infundado -, em cima de ser parvo, faz-se?!...
Tivesse tido o Margarido o bom-senso de concluir e retirar, da leitura do meu texto, que a extrema-direita não chupa o luso-tropicalismo marxista vigente no antigo Ultramar, nem com molho de Durão Barroso, e já eu aqui não estaria agora a derramar o meu latim...
Na sequência da sua palinódia, o nosso impagável Margarido exulta igualmente à brava pelo facto — e com o facto — de ter eu sacrificado muito do meu pensamento racial àquilo que ele considera terem sido os «desígnios históricos do salazarismo». Como se a inteireza, integridade e salvaguarda do nosso império ultramarino, e o indeclinável dever de o defender, não só na medida do possível, mas ainda e sobretudo na medida do impossível, não figurassem também — e também não fulgurassem — entre os «desígnios históricos da I República»!... Ou ignorará o Margarido que até o hereje do Afonso Costa apodava de «sagrada» a intangibilidade territorial da nossa soberania além-mar-em-África-e-no-Oriente?!... E o que dizer, então, do general Norton de Matos?... Esse, Margarido, não fazia a coisa por menos: mandava escarrar patrioticamente na cara de quem se atrevesse a indiciar — por pensamentos, palavras ou obras — o mais ténue propósito de atentar contra a estrutura imperial da Pátria. Mais: intimava a comunidade a dar ordem de expulsão ao meliante e a desfazer-se dele para sempre, e no mais curto espaço de tempo. O Margarido sabia disto?
Não, Margarido: nunca o incomparável transcurso luso-imperial foi um projecto histórico de via reduzida e para consumo só de alguns; era, isso sim, um desígnio nacional de fundo e de longo curso, uma empresa histórica colectiva, e uma aposta e um desafio a que só os quadrilheiros d`Abril viraram vergonhosamente a cara e voltaram vergonhosamente as costas.
Por mim, digo, repito, confesso e confirmo que imolei, sim senhor, alguns — ou mesmo muitos — dos meus ideais racialistas, mais profundos, no altar da sacratíssima causa ultramarina, e que em plena consciência o fiz; mas como também já tive ocasião de declarar no «Elogio da Raça», tomara eu continuar a ter de fazer esses e mais outros sacrifícios, porque era, então, sinal seguro de que o Ultramar ainda perdurava como projecto e não estava reduzido ao dejecto que é hoje...
A ponta final da peça não deixa, toda ela, de ser péssima, sem favor, até para não destoar do resto; mas que tem pilhas, tem! Porque aí é que o Margarido entra mesmo em delírio — em delirium tremens mental, digamos —, ao derivar para uma teoria de divagações capilares e oftálmicas, sumamente perturbante e claramente perturbada. Topa-se que o Margarido não está bem...! Imaginem só para o que lhe havia de dar?!... Então não é que se põe ele a sonhar alto com uma selecção nacional dos mais belos e esbeltos exemplares da espécie, todos loiros e de olhos azuis?!...
Não sei se, em homem, será esse o seu «tipo»; em mulher, está longe de ser o meu, confesso. E, no entanto, não sou — nunca fui — dos mais esquisitos na matéria... Desde uma linda negra lusíada, de etnia landim, que em boa hora se cruzou no meu caminho, quando Portugal ainda deitava para o Índico e não tinha, como hoje, o horizonte obturado, até uma creôlinha carioca — por sinal, bastante afrodisíaca... —, tenho eu, Margarido, em verso e em prosa, cantado, «provado» e degustado de tudo um pouco, e muito de tudo — sem a menor relutância.
Mas onde o Margarido quer mesmo chegar, sei eu muito bem...
Em todo o caso, sempre d`aqui lhe faço notar que mesmo os mais «vistosos» hierarcas do Nacional-Socialismo, escapavam, maioritariamente, a semelhante traça física.
Com isto, não estou eu, bem entendido, a insinuar — Deus me livre! — e muito menos a afirmar que Adolf Hitler ou que o Dr. Goebbels fossem tão «morenaços» como o não sei quê Mandela; mas convenhamos que também estavam longe de ser uns «loiraços» tão explosivos como a Cicciolina — que é, de resto, uma «falsa loira», para lá de ser muito mais coisas (e bem-haja ela!...)
E a respeito de serem «menos merencórios» para a extrema-direita os tempos em que eu escrevia no Diário da Manhã (com toda a honra, com todo o orgulho e sem metade do proveito que certa gente aufere com as tonterias que debita ao Público), não vá o Margarido sem resposta: esses bons e velhos tempos só eram «menos merencórios» para Portugal do que os tempos que correm...
Por último, quero ainda que saiba que não sou «completamente barresiano»; limito-me a ser «incompletamente barresiano» e tenho pena, acredite.
Sabe que mais, Margarido?... O que eu quero é que o Margarido vá à fonte, que o Margarido vá à fonte e vá encher a cantarinha... de água chilra. Porque doutra forma não merece o Margarido beber. E mesmo dessa... Mesmo dessa..., vamos lá com Deus!...
Ora adeus, Margarido!

Nota:
8 – Jornal Público, de 14 de Agosto de 1990.


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Este texto foi publicado quando, onde, a propósito de quê? Não nos pode fazer a "história" deste texto?
 
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